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Corra Marquinhos corra

 


****Dante Filho***

Marquinhos Trad adora futebol de várzea. Só entra no jogo pra ganhar. Como sempre foi um cara poderoso, os times contra e a favor sempre facilitaram para jogar-lhe a bola no pé e, assim, ele sempre fez gols. Ele tem 58 anos, corpinho de 40, corre razoavelmente bem, portanto devia estar preparado para, de vez em quando, levar um chute na canela. 

Quando isso acontece, ele fica nervosinho e sai do jogo reclamando. "Armaram pra mim", chora.

Mas essa semana o Mato Grosso do Sul viu como funciona a coisa. Quando a situação aperta Marquinhos parte em rota de fuga. Fugiu da prefeitura quando viu o tamanho estrago que fez com as contas do município, com dívidas, obras inacabadas, nome sujo na praça, descumprimento da Lei de Responsabilidade Fiscal, enfim, fugiu deixando a famosa orgia administrativa para dona Adriane Lopes, que ainda está mais perdida do que cão que cai do caminhão de mudança. 

Marquinhos - o homem das mãos limpas - depois se meteu no caso de assédio sexual, confessou adultério, e, conforme as denúncias foram aparecendo, descobriram que havia estupro, facilitação para a prática de prostituição, enfim, aquilo que a sacrossanta família costuma chamar de zona generalizada. 

Ultimamente, Marquinhos está fugindo da Polícia.

Mas ele é esperto. Candidato a governador, providencialmente, logo tratou de chamar tudo isso de "armação". 

Contratou duas advogadas (o fato de serem mulheres pesou mais do que suas competências profissionais) que têm atravessado os pés pelas mãos, diante de um inquérito que promete equivaler-se a um romance do Marquês de Sade. 

Nesse meio tempo, um assessor de apelido Vitinho (figura carimbada no gabinete do prefeito), foi preso tentando coagir testemunhas, fazendo-as assinar termos lavrados dizendo que haviam mentido para a polícia. O sujeito é tão despreparado que esqueceu que os cartórios têm câmeras instaladas e isso acabou o levando em cana dura. 

A Delegacia da Mulher está na fase final do inquérito policial que demonstra que o ex-prefeito tem grande potencial como atleta do sexo. Mas a coisa vai além disso. Há perversidade e desprezo por seres humanos, à medida que o prefeito entregou várias meninas carentes para servirem a empreiteiros e empresários que fazem (ou faziam) negócios milionários com a prefeitura.

Tais fatos estão consignados em vários depoimentos, mas como ele insiste que tudo é "armação" devia ser o primeiro interessado em esclarecer essa bagunça. No entanto, vem se negando a ir depor na polícia, dizendo que não recebeu pessoalmente a citação oficial. 

Claro, para alguém mais atento, isso poderia ser aquilo que comumente se chama "confissão tácita de culpa".

O mais estranho é que o ex-prefeito se diz "homem do povo". O cidadão comum já teria sido levado à sala da delegada, passando pelas inquirições de praxe. 

Marquinhos é advogado criminalista e sabe como essas coisas funcionam. Fugir da polícia pega mal. Ainda mais pra quem deseja ser governador do Estado. 

Nesse momento, "o homem do povo" desapareceu, e surgiu em seu lugar o aristocrata inimputável, com nome familiar de peso, pertencente a uma dinastia inatingível pela lei, tornando-se um indivíduo que não se move nem por dever cívico muito menos por coerção de sua própria consciência moral. 

De minha parte, gostaria saber em detalhes essa história de "armação", porque ela deve conter detalhes de grandes histórias policiais- servindo inclusive para dar base a um roteiro emocionante de uma série de televisão.