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As incertezas das pesquisas

*Dante Filho*

Recentemente, num artigo publicado no O Globo, a colunista Malu Gaspar , constatou que um fenômeno diferente vem ocorrendo nestas eleições, não só no plano nacional, como também nos estaduais. Antes, até 2018, os políticos ficavam no aguardo de fatos novos para medir o impacto nas pesquisas de opinião. Agora, em 2022, vem ocorrendo o contrário: o “fato novo” são as próprias pesquisas, que vêm sendo transformadas em armas para discurso político. 

Tempos atrás escrevi em meu blog ( www.dantefilho.com.br -  “Pesquisas em MS viram piada”) que os levantamentos estatísticos para  medir os padrões de escolha dos candidatos a presidente, governador e senador, haviam se transmudado em peças publicitárias.

Nos primórdios, lembra Malu Gaspar, não existia essa profusão de institutos que aparecem nos períodos eleitorais, mostrando, a cada rodada, números pouco críveis, principalmente quando observada a metodologia, os locais pesquisados com dados censitários, os número de entrevistas e as margens de erro. Não há, obviamente, absurdos estatísticos: ninguém verá uma Soraya Thronicke entre os primeiros lugares e um Lula entre os últimos.

Antes, quando havia apenas Ibope e Datafolha, havia no eleitor uma crença de que poderia ser encontrada uma verdade próxima da realidade, mesmo quando surgiam erros aqui e ali. Claro, pesquisa não é profecia. No máximo, uma espécie de bússola precária para orientar como se dá o movimento das opiniões e das escolhas dos candidatos. 

Com isso, passados os anos, os institutos foram emponderados, ganhando importância vital no processo de escolha. Foi daí que muita gente descobriu como aproveitar-se das campanhas, manipular números, criar confusão e apostar que o brasileiro continua sendo aquele bocó que não “gosta de perder voto”.

Ao mesmo tempo, a justiça eleitoral, que até anos atrás não estava apetrechada para compreender a ciência estatística e a sociologia das massas (Gabriel Tarde, Ortega Y Gasset, Edgar Morin, Douglas Murray etc) passou a prestar atenção no negócio. Com isso, está criando mais instrumentos de análise para avaliar tecnicamente os levantamentos, com pessoal melhor preparado. 

Como se viu aqui em Mato Grosso do Sul, está havendo verdadeiro abuso, com muitas pesquisas sendo suspendidas e proibidas para divulgação (quem está comprando resultados?), sendo que até mesmo um instituto renomado como o IPEC (antigo Ibope) entrou nesta rodada sinistra, sem que a TV morena (responsável pelo levantamento) tenha se manifestado sobre o tema. 

(Seja quem for o sujeito responsável por dar crédito à pesquisa do IPEC na emissora ou é idiota ou guarda para si interesses inconfessáveis. Dá nojinho.)

A turma de Bolsonaro vem tentando há tempos descredibilizar as pesquisas, principalmente o Datafolha, que tem se precavido fazendo mais de 5 mil entrevistas, com uma abrangência jamais vista. O Bolsonarismo inventou o datapovo e tem açulado os ânimos contra os institutos, inclusive contratou vários deles para chamar de seu. 

Muitos teóricos do setor dizem que as pesquisas são passíveis de erro por causa da defasagem dos índices do Censo (totalmente desatualizados). Outros dizem que isso não influencia porque a Pnad contínua garante a atualização, apesar de que os institutos devam ser cautelosos quando vão estratificar a população por renda, visto que a mobilidade social do período da pandemia virou tudo de ponta-cabeça. Isso pode alterar os resultados em pelo menos 3 pontos para cima e para baixo.

Outro assunto  que deve ser levado em conta: há um crescimento da violência contra o pessoal de rua do IBGE e de vários institutos de pesquisa, preferencialmente os do Datafolha. Centenas de recenseadores e de pesquisadores estão desistindo do trabalho por causa do assédio e agressões em larga escala. Os condomínios de luxo, as favelas dominadas pelo crime organizado e os lugarejos nos grotões tornaram-se impenetráveis. Portanto, uma franja da sociedade escapa dos levantamentos, podendo ou não impor vieses nos resultados finais de cada pesquisa. 

O problema é que a leitura desse fenômeno é apenas especulativo. Vamos ver depois da abertura das urnas. Sabemos que realização e divulgação transformou-se, em vários momentos, em negócio sujo. Com o desenvolvimento da tecnologia, sobretudo com a Inteligência Artificial, haverá correções importantes no futuro, não permitindo muita margem de manobra do responsável pelo instituto para acrescentar uns pontinhos ali e suprimir uns pontinhos aqui, vendendo mágica e fake news..