Pages

Puccinelli

Puccinelli e Riedel preparando-se para disputar o segundo turno

******

Dante Filho****

Dia desses, conversei por um bom tempo com o ex-governador André Puccinelli. Conversasolta. Sem pauta pré- estabelecida.

Nos conhecemos em 1981. A primeira vez que estivemos juntos foi no começo de sua campanha eleitoral para a prefeitura de Fátima do Sul.

Estava acompanhando o Dr. Wilson B. Martins no preparo de sua candidatura ao Governo do Estado.

Na viagem de volta para Campo Grande, Wilson estava impressionado com André. Havia gostado muito do que viu e vaticinou que Puccinelli ia longe.

Mas naquela eleição ele perdeu e Wilson ganhou. Em seguida, foi escolhido para ser o seu secretário de Saúde. O resto é história.

Puccinelli é um sujeito pragmático no sentido clássico: preocupado demais com resultados e desatento com formulações teóricas para se chegar neles. Trata-se de um social-democrata,  que se situa ao centro político, anti-petista, daquela linhagem que mistura udenismo com flertes episódicos ao trabalhismo de Brizola. Sei que é confuso, mas Puccinelli habita o campo dos déspotas esclarecidos, juntando caudilhismo com desenvolvimentismo liberal.

Nossa conversa recente (não foi entrevista) percebi um Puccinelli mais humanizado, em paz consigo mesmo, não carregando nenhum ressentimento contra aqueles que construíram a tessitura de seu processo judicial e, posteriormente, sua prisão. Não se conforma, porém, com o que fizeram com seu filho, e, ao comentar o assunto, mostra-se emotivo. Acha que foi maldade humana.

André vislumbra chance de ser eleito governador. Imagina que enfrentará no segundo turno Eduardo Riedel. Marquinhos – ele calcula – seria um adversário mais fácil porque tem traços maníacos e psicopáticos, que o tornam quase inaptos para governar o Estado. Analisa a política sul-mato-grossense nos aspectos micro e macro como poucos. Não despreza nem subestima ninguém. Diz que será uma eleição difícil, e o peso da máquina será determinante. 

Quando insisto na pergunta sobre seu processo e sua prisão ele indica dois responsáveis específicos. Um traidor e um articulador oculto. O traidor atende pelo nome de Odilon de Oliveira. E o articulador é conhecido por Reinaldo Azambuja. Ele me conta a trama e pede segredo.

Voltando ao tema da disputa, Puccinelli acredita que a sociedade tem uma grande chance histórica, nesta eleição, de espanar o populismo – que ganhou espaço, inicialmente, com Bernal e vem se fortalecendo com Marquinhos e Rose Modesto, empobrecendo projetos ousados e fortalecendo uma cultura da vitimização que não nos levará a nada. Para ele, tanto Marquinhos como Rose não são gestores. Um é andarilho. E a outra, uma animadora de auditórios.

Ele não diz com essas palavras, embora faça formulações que nos leva a essas conclusões. Tirando esses dois do páreo, esse modelo político poderá fragilizar-se pelas próximas décadas, garantindo perspectivas de transformação estrutural do Estado. Para Pucci, populismo é quase uma chaga que aprofunda o atraso.

“O populismo tem uma raiz que apodrece o desenvolvimento da democracia”, afirma, fortalecendo cada vez mais a ideia de que política flerta com o espetáculo circense e sua prática de sedução engana a sociedade com soluções fáceis e mentirosas.

Ele comenta que uma disputa local com Riedel colocará a campanha noutro patamar; o níveldo debate será elevado e, por fim, as pessoas e a própria política ganharão em qualidade. 

 Depois de quase duas horas de conversa gerais, desenho de cenários, avaliações pessoais do quadro de disputa, sua assessoria começa a bater na porta para dar seguimento à agenda. André balança os ombros, sorri, se levanta e diz: “vida que segue...”E sai apressado se esquecendo cumprir as regras senhoriais da despedida. 

 Senti que ele está preparado para este que, talvez, seja o último embate político relevante de sua carreira. Ele tem 74 anos, mas continua lépido, raciocínio rápido, disposto fisicamente.  Por isso, não está preocupado com o embate nacional. Tanto faz que o próximo presidente seja Lula ou Bolsonaro. Nas suas contas, isso é jogo de soma zero. 

 


COMO UMA ONDA – A campanha de Marquinhos Trad está convencida de que o escândalo que dominou o debate político na semana passada – denúncias de assédio, estupro e exploração sexual , que estão gerando um volumoso inquérito policial – passou e virou apenas espuma. Com isso, voltou a arrogância. Sua esgotosfera está ativa. Marquinhos voltou a espancar Eduardo Riedel e seus apoiadores. Ele repete a frase: “o homem não decola”. É jogo de cena. Na verdade, Riedel saiu de um patamar de 4 pontos e hoje tem entre 14 e 16. Ele continua demonstrando que ainda não entendeu o que está acontecendo.

DEMOCRACIA E DITADURA – Democracia é quando escrevo e não fico com medo de ninguém chutar a minha porta para me prender. Ditadura é o contrário. Simples assim.