Pages

Pesquisas em MS viram peças publicitárias de campanha

 



************Dante Filho*********

Num Estado pequeno como o nosso, formado por eleitorado provinciano, nada mais natural que pesquisas eleitorais sejam fulanizadas. 

Em sendo assim, antes do eleitor olhar os números, ele mesmo diz o nome de seu patrocinador ou do dono do instituto. É comum ouvir referências aos levantamentos como a "pesquisa de João, de Pedro, do Amilton" (nomes fictícios) principalmente para desqualificar os resultados. 

Sendo assim, a pesquisa fica muito dependente da reputação e da credibilidade do dono do instituto. E pelo visto nas redes sociais nenhum deles reúne os atributos necessários para vender confiança à sociedade. Por essa razão, quando aparecem pesquisas de institutos nacionais divulgando números locais, de imediato ela é tomada como se fosse uma verdade absoluta. 

O Datafolha, por exemplo, nunca fez pesquisa no mercado de Mato Grosso do Sul. Uma vez perguntei o motivo para um editor do jornal Folha de S.Paulo. Depois de uns dias ele me respondeu que o Datafolha sempre faz pesquisa associada a um grupo de comunicação local. Elas custam caro. Nunca houve, neste sentido, um acordo comercial que fosse possível que o instituto medisse as preferências locais em época de campanha. 

E mesmo um instituto tradicional como o Datafolha cada vez mais tem seus resultados questionados pelas militâncias dos partidos.

Assim, ficamos sujeitos a uma profusão de pequenos institutos, cujos proprietários têm vínculos políticos amplos, que aproveitam o momento para atender o maior número de clientes e de interesses possíveis, querendo agradar a todos em determinados momentos da disputa. 

Sim, os levantamentos podem até ser aplicados, aprovados pelo TRE, com metodologias diversas, mas sempre com elevado viés pelo fato de que a pesquisa é um produto de influência política, tornando seu agente um sujeito importante (o ego, o ego...) e socialmente influente. 

No fim, o importante não são os números e sim a capacidade de este ou aquele mexer nos índices para favorecer os candidatos que estão pagando mais. Lembrem-se: a hora de faturar é agora porque depois entra o período de vacas magras, cujas portas de oportunidades só abrirão na próxima campanha. 

Claro que os números divulgados pelos institutos não são totalmente irrealistas. Reconheço que há uma tênue verdade neste cipoal quimérico, em que todos discutem, comentam, batem boca, mas ninguém tem ideia sobre o que, de fato, está acontecendo. 

Por isso, as pesquisas eleitorais tornam-se apenas peças publicitárias, com toda aquela gama de confusão que elas costumam emanar. 

Para os donos dos institutos, trata-se de um grande negócio, pois quanto mais acirrada a disputa, mais grana flui, pois os grupos coordenadores de campanhas entram numa fase de excitação típica de jogadores que apostam alto no risco de ver seu candidato vencendo ou indo para o segundo turno.

Sei que os donos do instituto não vão gostar disso que estou escrevendo. Mas já trabalhei tanto tempo nessa área, que manobras com pesquisa tornou-se algo tão natural quanto respirar. 

Mas e o eleitor? Ele deve acreditar nas pesquisas? Acho que não se trata de uma questão de fé. Trata-se de ter um instrumento a mais para avaliar o quadro, dentro das chamadas séries históricas, que apresentam números diversos ao longo da campanha. 

Em muitos países pesquisas tornaram-se problemas políticos sérios. Por isso, até um determinado momento aconteceu uma verdadeira farra do boi, com manobras, espertezas e fraudes. Depois, conforme se aproxima o dia do pleito, promovem-se os ajustes, corrigem-se os erros e, ato contínuo, divulgam-se acertos maiores ou menores para garantir a credibilidade dos levantamentos. 

Os Estados Unidos estão tentando resolver esse problema com algoritmos e inteligência digital. Na última eleição entre Trump e Biden o nível de acerto foi elevado. 

Tudo isso faz parte do jogo eleitoral. Campanha não é um jogo canônico. Eu, por exemplo, gosto de misturar os números de todos os institutos, dando-lhe pesos diversos conforme dados específicos da realidade (entre elas o comportamento e as ligações políticas dos donos dos institutos, que geralmente fazem acordos irrestritos), tentando separar o que é aceitável, o que é verdadeiro ou o que é mito produzido pelas  propagandas das bolhas. 

Sabendo mais ou menos como esses caras operam e os números que produzem, a gente fica orientado pra saber o lado a canoa segue.

Neste sentido, vejo o quadro político local da seguinte forma: André Puccinelli está na frente (faixa de 20 a 26%), mas não decola, segurado na base por causa do alto índice de rejeição. O segundo lugar ainda é um mistério. Riedel e Marquinhos oscilam na margem de erro entre 18 e 22%, mas Riedel tem baixíssima rejeição e cresce sem parar (lembrem-se, ele começou a campanha com 4%). Marquinhos está em baixa, resolvendo seus problemas "dentro de casa".

Reparem que sua campanha enfrenta dissidências e vários candidatos a deputados estaduais e federais desvincularam seus nomes ao de Marquinhos, talvez pressionados pelos seus familiares "dentro de casa". 

Quem sai para as ruas para pedir votos com uma mulher desconfiada atazanando sua cabeça?

Rose pisou no freio, até porque seu verdadeiro interesse é ser bem votada em Campo Grande (mesmo perdendo) porque seu projeto é ser prefeita da Capital na próxima. 

Capitão Contar agrega uma parcela do Bolsonarismo radical, mas dificilmente terá mais que 8% dos votos. Sua campanha é errática e padece de um certo infantilismo. Como se diz, ele é um Dronão teleguiado por uma publicitária maluca. Ele não oferece rumo porque a direita de MS fechou com Riedel por causa de Tereza Cristina, que tem um grande empuxo a partir do agro, que é o setor mais bem sucedido de nossa economia. 

Pra finalizar, pela minha experiência e intuição, convém aguardar as pesquisas de meados de setembro. Muita coisa vai mudar até lá. Mas a tendência é o eleitor ter que optar, lá na frente, entre Riedel e Puccinelli.