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O momento estrebaria da nossa Câmara Municipal

 


Carlão, relinchando contra a CPI do Proinc



****Dante Filho*****

Nas primeiras décadas do ano de 1500, o Brasil criou algo novo e inédito na esfera de representação política mundial.  Nas pequenas comunidades que nasciam na faixa litorânea, lá por 1535, onde hoje se localiza o Estado de São Paulo, nas regiões de Santos e São Vicente, nas quais habitavam de 3 a 10 mil almas, a distância e as dificuldades de comunicação com o Reino fez surgir um modelo de representação social inimaginável naquelas terras que deus havia abandonado nas mãos do soturno. 

O mundo vivia ainda o apogeu da Idade Média, o Brasil era uma colônia recém-descoberta, mas mesmo assim criou uma esfera de poder local com a representação (por eleição) para conduzir os negócios destes pequenos lugares.

Geralmente, eram eleitos 7 membros da comuna (homens alfabetizados, com renda pré-determinada, proprietários etc) colocando assim a Câmara de Vereadores ( não tinha esse nome, embora os princípios fossem os mesmos) para mandatos de 5 anos sem reeleição. Era um trabalho voluntário. Na Europa, esse modelo de poder comunal só existiria depois de mais de 200 anos. 

Ou seja: a Câmara de Vereadores germinou naquele tempo em terra Brasilis como o primeiro esboço do que poderia ser um sistema democrático, com todas suas qualidades e defeitos. 

Portanto, a rigor, a representação legislativa municipal tem uma longa história e tradição no Brasil, e devia ser o ponto alto dos grandes políticos, gente com saberes e deveres exclusivos, ou seja, lugar de encontro dos melhores entre os melhores, visto que gerenciam e fiscalizam a realidade dura do cotidiano. 

Brasília é um País abstrato, terra da malandragem, longe dos olhos e dos corações da sociedade, incrustada no planalto central, onde todos os dias Sodoma e Gomorra ganham novas representações em nossas consciências cívicas.

Os municípios são diferentes, vivemos neles, queiramos ou não, são o nosso contato mais próximo do mundo real possível. Vivenciamos a proximidade do jogo político. 

Mas na semana passada o campo-grandense viu como o exemplo que vem de cima deteriora tudo que está aqui embaixo. Numa sessão que ficará para os anais da história o presidente da Câmara, Carlos Augusto Borges (PSB), o Carlão, foi ao microfone e transformou a Casa de Leis num simulacro de estrebaria. 

Falando do alto de sua autoridade avisou que não concordava com a instalação da CPI do Proinc, que dependia de apenas um único voto, pois ele era contra esse tipo de atividade em ano eleitoral, pois a Comissão estaria contaminada pelo momento político. 

Ora, tudo que acontece no dia a dia da Câmara é essencialmente político. E, ademais, não haverá eleição municipal e sim estadual e federal. Carlão usou um argumento patético, mesmo porque ele não consegue diferenciar o certo do errado. Se cair de quatro...

O depoimento de Carlão tem 40 segundos (pode ser assistido nos vários canais da internet e na minha página do facebook) e causa espanto até nos mais ingênuos credores das várias Cartas pela Democracia que estão circulando por aí. É um escárnio que provavelmente jamais aconteceria nem no período medieval. 

Carlão mostrou-se despudorado na ameaça que fez aos seus pares, os quais assinaram o pedido de CPI, humilhando do a todos, indiscriminadamente, de maneira autocrática, sem que houvesse um único pio de contrariedade. Ele não tem as mínimas noções da liturgia do cargo. 

Num País e numa cidade normal, com cidadãos normais e gente decente haveria pedidos de cassação do mandato do vereador por quebra de decoro. Mas, a covardia de nossos representantes ultrapassa a anomia que atualmente prevalece no ambiente institucional brasileiro. Lamentável. 

O CAPITÃO E O PINÓQUIO – Existe uma pergunta no ar e que cabe ao Capitão Contar responder aos eleitores. Certamente, pode ser mentira como pode ser verdade. Ou ambas as coisas. Zonas cinzentas existem. Pergunta-se: há um acordo entre o Capitão e Marcos Pinóquio Trad no campo da esgotosfera para difusão de fake news contra André Puccinelli, Eduardo Riedel e Rose Modesto? Mais: os dois andam tramando no escurinho do cinema para produzir escândalos estratosféricos? Digo isso porque quando levantei pela primeira vez o assunto fui ameaçado de processo. Agora estou apenas perguntando. A reação da extrema-direita que circunda as duas campanhas foi desproporcional à lateralidade do comentário. Impressiona o desespero.

 

 

* Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de Mato Grosso do Sul