Pages

O debate

 


*****Dante Filho****

O debate entre os candidatos à presidente da República, exibido ao vivo pela Rede Bandeirante, neste último domingo, certamente foi escrutinado pela imprensa e opinião pública de todas as maneiras possível. 

Antes mesmo das palavras finais dos postulantes, era possível ler nos principais jornais, sites, blogs e redes sociais uma variedade imensa de análises, palpites, opiniões e bastidores do acontecimento.

Enquetes das mais variadas mostraram quem havia vencido, quem tinha se saído melhor ou pior, enfim, o fato, em 48 horas, havia produzido imenso volume de informação, da qual, sinceramente, não deixa muita margem para que se faça abordagens exclusivas ou originais. 

De imediato surgiram alguns consensos: Simone Tebet foi a rainha da noite, Lula claudicou, Ciro mostrou-se o melhor preparado, Bolsonaro fez o que sabe fazer (ser o estraga prazeres da festa), Soraya queimou o sutiã, abandonando definitivamente (?) o bolsonarismo raiz e Felipe D’Avila apresentou-se bem, introduzindo ideias liberais na salada de frutas da política brasileira. 

Tirando o incidente lamentável entre Bolsonaro e a jornalista Vera Magalhães, todo o debate, de resto, seguiu seu curso, com os candidatos mostrando suas cartas e deixando impressões gerais que os telespectadores poderão avaliar no decorrer da campanha. 

O evento vai gerar votos? Não se sabe. Vai modificar tendências de pesquisa? Provavelmente, não. Mas com certeza redefinirá estratégias publicitárias de cada campanha.

Lula deverá avaliar seriamente se no tema corrupção valerá a pena abandonar o negacionismo, aceitando fazer profunda autocrítica, o que o PT tem se negado até o momento. Ciro talvez deva temperar o velho Ciro com o novo. Bolsonaro é incontrolável, não segue estratégias, é puro instinto e raiva.

Felipe certamente insistirá na tese de menos Estado e mais empresas. Simone e Soraya estão soltas no ar, visto que a partir de agora elas podem falar qualquer bobagem com convicção, pois ambas estão referendadas, na opinião pública, pelo chamado “vitimismo feminista” (na falta de uma definição mais abrangente. 

O debate em si dissolve-se no ar. Amanhã e depois cai no esquecimento, pois outros virão. Mas a narrativa (infelizmente, não vejo palavra melhor) permanecerá sendo repetida nas redes sociais, com os trechos editados conforme as conveniências de cada candidato e de suas equipes de marqueting. Também vai passar até fatos novos surgirem.

Nesse ambiente tem de tudo: campanha negativa e positiva. A profusão informativa gera uma química de alta voltagem, produzindo uma osmose reversa que poderá resultar em qualquer coisa, inclusive nada diante da aceleração do tempo das campanhas, com aparecimento de denúncias e achincalhes de todos os tipos. 

Certamente as vidas de Simone e Soraya passarão por novos escrutínios, setores da mídia vão aprofundar suas respectivas biografias, dando razão àquele antigo argumento de que às vezes subir muito rápido pode significar quedas bruscas. 

No fundo, debate eleitoral é apenas mais um show televisivo. Mexe com os corações e mentes da sociedade momentaneamente. Criam rumores e confusões danadas. Mas a consolidação de votos é um processo complexo. 

O vencedor de hoje perde amanhã. Tudo é incerto. A única verdade nesse processo é proveniente da matemática da contagem dos votos no final de tudo. Esse é o resumo da ópera. Do ponto de vista da democracia e seus desdobramentos estamos saindo do velho e tentando criar o novo. O grande debate talvez seja quais as marcas simbólicas de transformação serão deixadas para o País no futuro.


Simone & Soraya – Daria um bom nome de dupla sertaneja. Ambas saíram do debate da Band celebradas no plano nacional. Mas suas bases políticas estão em Mato Grosso do Sul. Aqui elas estão em baixa. Apesar de manter um firme discurso de apoio às causas das mulheres até o momento não deram um pio sobre o escândalo de assédio sexual, estupro e aliciamento ocorrido na prefeitura de Campo Grande. Tiveram várias chances para se manifestarem. Mas preferiram o silêncio. Qual a razão?