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O conceito de armação



*************Dante Filho********

* A equipe de marketing do ex-prefeito Marquinhos Trad teve acesso na semana passada de uma pesquisa que mostrava que 45% dos campo-grandenses consideravam as denúncias de estupro e assédio sexual como "armação". 

Se os índices indicassem predominantemente que tudo se tratava de "mentira" toda a máquina de propaganda estaria negando e usando o verbo mentir como abre-alas da contra-campanha de opinião. 

Armação, a rigor, significa algo bem estruturado, planejado, cujas bases se conectam perfeitamente a uma estrutura funcional, dando-lhe uma função útil e positiva. Uma armação de óculos, por exemplo, permite às pessoas ajustarem o instrumento ao rosto para enxergar melhor. 

Talvez quem insista em usar "armação" no escândalo que envolve o ex-prefeito esteja apenas usando o termo no sentido de "armadilha", não querendo que as pessoas enxerguem o óbvio no caso. "Armaram" para o coitado e ele caiu como um patinho, diz o senso popular.

Bem, como já são dezenas de vítimas depondo e outras testemunhas que vão ainda se somar ao caso, é provável que a ideia inicial de "armação" se dilua e os marqueteiros encontrem outra palavra para desviar o foco e salvar as aparências. 

Até o momento Marquinhos confessou o adultério com base na ideia de sexo consentido. Hoje em dia, mulheres não gostam de serem traídas ( homens, nem se fala), portanto o eleitorado feminino poderá se irritar e abandonar a candidatura do ex-prefeito, juntamente com aqueles que estão ao seu lado. Aliás, já se percebe nas redes candidatos a deputado se afastando do nível de toxina que está exalando do ex-prefeito. 

A própria família Trad já percebe que poderá ficar manchada com o episódio, já pensando inclusive a passar somente o prenome, esquecendo o sobrenome. 

Agora, a pergunta fatal: quem ganha com tudo isso? A campanha de Trad aponta o dedo na direção do PSDB, afirmando que a "armação" partiu de alguns celerados do tucanato. Até agora apareceram nomes aqui e ali, e a polícia tem obrigação de apurar. Seja quem for, tratam-se de imbecis rematados.

Na verdade, toda a classe política opositora à candidatura de Marquinhos está tirando uma casquinha do episódio, principalmente pelo fato de se tratar de alguém que foi contando histórias diferentes até chegar à confissão de traição conjugal. 

Não é preciso ser um idiota completo para perceber que verdade e credibilidade não são pontos fortes do pré-candidato. Qualquer filme de investigação policial mostra que o suspeito que conta várias histórias para o mesmo fato tem batom na cueca.

Se Marquinhos chegar vivo até a convenção partidária no próximo dia 30, certamente tentará fazer um pronunciamento bombástico, até para repercutir entre seus eleitores que esqueceram a armação de óculos em casa. Mesmo assim, já estará muito fragilizado para tentar manobras mais ousadas. 

Mas a política é um teatro cheio de surpresas. Quem sabe uma gran finale nos aguarda para a perplexidade geral de Mato Grosso do Sul.

Vamos aguardar...