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Armação e Verdade


*******Dante Filho

Pesquisas internas de vários partidos mostraram que a sociedade campo-grandense está com as opiniões divididas nesta primeira semana de abertura do inquérito policial comandada pela delegada Maira Machado, que, ouvindo inúmeras vítimas, denunciou o ex-prefeito Marquinhos Trad por estupro, assédio e exploração sexual.

Uma parcela ponderável do eleitorado considerou que tudo é “armação”, fruto da campanha eleitoral. Outra parte alega que ainda não tem opinião formada e há uns 30% que não foram informados sobre o assunto. São aqueles que se informam única e exclusivamente pela TV.

Cerca de 10% diz que tudo é fake news e mais de 20% diz que é tudo verdade.

Mesmo assim, a situação do prefeito não é confortável. Ele perdeu 8% de eleitores, que serão distribuídos entre seus adversários. 

A estratégia de defesa do ex-prefeito foi errática. Primeiro, ele alegou perseguição política, depois tentou a chantagem emocional alegando que sua família estava sofrendo muito, por fim, depois de três dias, confessou o adultério, alegando que manteve relações consensuais com uma mulher fora de seu gabinete.

Penso que traição conjugal é algo da esfera da vida privada. Isso não é crime. Acontece com muitas pessoas, a vida é um torvelinho de emoções insondáveis. Moralismo barato não é minha praia.

A questão é mais complicada e o curso das investigações – não havendo pressões nem operação abafa – mostrará a gravidade que foi o uso institucional do gabinete do prefeito para submeter (mesmo que consensualmente) mulheres ao fascínio e jugo do poder.

Já se suspeita e há fortes  rumores de que algumas das relações havidas no banheiro do Gabinete de Marquinhos foram gravadas com aparelhos celulares. Há depoimentos de várias vítimas que foram atraídas pela promessa de emprego. 

Há casos de aliciamento via uso do Proinc. Enfim, usou-se recursos e espaços públicos para desfrute indevido do chefe da municipalidade e vários outros assessores. No limite, o assédio pode ser também um ato de corrupção. As mãos do ex-prefeito estão sujas.

O inquérito seguirá seu curso. O Ministério Público e o Poder Judiciário serão testados. Vamos ver o que acontecerá. Os apoiadores do prefeito e os operadores de sua
esgotosfera
estão tentando reverter o quadro, tentando dar uma virada e colocá-lo como vítima de mulheres interesseiras e chantagistas. 

É certo que dependerá muito das grandes mídias uma cobertura adequada do caso para provocar um rompimento inercial quando autoridades são denunciadas com as calças no joelho. Certamente, o ex-prefeito terá que mudar de discurso. Buscar na periferia mocinhas bonitas, fragilizadas pela pobreza e falta de oportunidades, não engrandece nenhum cidadão, e, certamente, nenhuma autoridade. 

Para o assunto chegar ao povão a questão terá que entrar no noticiário televisivo. Será que isso vai acontecer? Pelo que se vê, tem muita gente no bolso do prefeito. E o mais incrível é que hoje as redações são majoritariamente ocupadas por mulheres. Elas devem estar bem aborrecidas. 

Aviso aos navegantes

Mais uma vez reitero que este locutor que vos fala não está a serviço de campanhas nem de candidatos. Não preciso disso. Minhas preferências eleitorais não interessam a ninguém e não influenciam meus comentários sobre fatos. Quem quiser testar meus limites, vá em frente. Há muito tempo o medo foi afugentado de minha morada.