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Por que devemos duvidar de pesquisas eleitorais neste momento




 Dante Filho

O chamado jornalismo de qualidade tem insistido no conceito de que pesquisas eleitorais são instrumentos válidos de medição de tendências de preferência de pré-candidatos, principalmente a cargos majoritários. O raciocínio é correto. Não há outra forma de analisar o quadro político sem os números e estudos estatísticos que se apresentam. 

Se lá na frente eles se mostrarem assertivos e corretos, é outra história. Pesquisa não é uma verdade absoluta. Duvidar dela não é pecado. É um direito de cada cidadão avaliar a disputa como se lhe apresenta a realidade. O que não pode é torturar números e fazer propaganda mentirosa. Mas isso é outro assunto...

A cada divulgação dos índices, grupos coordenadores de campanhas que atuam junto aos partidos, mobilizam esforços para utilizar os dados estatísticos como instrumento de marketing. A ciência, no caso, serve à picaretagem.

Quem pontua acima busca e se coloca na frente deseja inflar a preferência como se essa realidade fosse imutável, fazendo com que o dado momentâneo seja fixado como elemento consistente de vitória. A queda dos índices passa a não ser aceitável e qualquer desvio tem sempre alguém que grita "fraude!". 

Quem se situa abaixo, martela nos meios de difusão disponíveis de que os números mudarão, pois a eleição nem começou e que haverá muita estrada pela frente, com seus solavancos e sinuosidades. 

Ontem, por exemplo, os principais pré-candidatos a governador de Mato Grosso do Sul passaram o dia debruçados sobre os números do instituto Real Time Big Data, patrocinado pela TV Record do Bispo Edir Macedo. 

Marquinhos fez uma festa porque mostrou-se acima de André Puccinelli, que vinha há meses situando-se em primeiro lugar. 

Uma diferença de 1% (não vale rir) para uma pesquisa feita por telefone, com 1,5 mil entrevistados, com margem de erro de 4%, levou o ex-prefeito às redes sociais superdimensionando o feito. Pode parecer caricato, mas tudo isso faz parte do jogo.

Na verdade, Marquinhos poderia ter 18% e André 23% das intenções de voto (tudo dentro da margem de erro), mas como verdade não é o forte de ninguém neste ramo, então trata-se de criar uma realidade alternativa pra ver se turbina a militância a soldo e consolida algum voto no eleitorado desavisado que gosta de votar no "já ganhou". 

Quem tiver o cuidado ( tem gente que se dedica a isso com afinco) de analisar as variadas pesquisas realizadas nos últimos 30 dias (internas e externas) verá que o quadro geral das preferências permanece petrificado, ou seja, há poucas alterações de fundo na cena eleitoral de MS. 

Marquinhos e André permanecem na faixa de 20% desde o início da pré-campanha. A impressão é de que bateram no teto. Rose e Riedel estão entre 12 e 15%, ainda em fase de degustação pelo eleitorado. Capitão Contar teve leve crescimento de 2% (deve estar com, no máximo, 7%) por conta da disposição em ser candidato, coisa que não estava muita clara há 15 dias.Vida que segue...

A classe política suspeita que o instituto Real Time Big Data tenha tentado ajudar o Capitão Contar com o intuito de impressionar Bolsonaro, que estará em Campo Grande no próximo dia 20 para consagrar uma aliança com o candidato do PSDB. Um jogo bobo, mas tudo pode funcionar.

Francamente, achei os dados técnicos dessa pesquisa frágil, com margem de erro elevada, tudo muito superficial, além de 15% de indecisos (que não responderam ou disseram “não saber em quem votar"), o que mostra que há muitos eleitores que ainda não prestaram atenção ao cenário eleitoral. 

(Uma curiosidade: passei uns dias em Campo Grande e notei que a maioria dos taxistas e uberistas ainda pensa que  o prefeito é Marquinhos Trad e não Adriana Lopes, o que revela que a renúncia do ex-prefeito ainda não foi absorvida por muita gente).

Claro que a pesquisa Big Data é um ativo na campanha de Contar porque ele poderá ter algo a apresentar ao presidente e ao Bolsonarismo raiz com alguma consistência, além de blá-blá-blá ideológico. 

A pré-campanha de Riedel deve olhar os números com alguma preocupação, pois não é confortável ficar numa posição de retaguarda quando, tempos atrás, ele mostrou que os prefeitos, vereadores e deputados, majoritariamente, convergiam rumo ao seu projeto. 

O marketing negativo de candidato que “não decola” é péssimo, mesmo observando que sua taxa de conhecimento é baixíssima e sua rejeição é quase inexistente. 

Para Puccinelli o quadro não é confortável também. 

Marquinhos vem tentando colar no cenário de disputa que tudo se resumirá na divergência política entre o ladrão e o homem honesto. Isso só vai funcionar se até o final da campanha André não reagir e mostrar os podres de Marquinho, perguntando, por exemplo, como pode um homem sem profissão ostentar uma vida de alto padrão como a dele. 

Alguém poderá aparecer para responder a essa e a muitas outras perguntas – de resto, naturais , quando a propaganda eleitoral resvala para cobranças morais e ausência de programas de trabalho. 

Vamos ver.