Se a prefeita tiver ainda noção de decência afasta-se da campanha e mergulha na administração
Dante Filho*****
A semana está sendo complicada para a prefeita Adriane Lopes. Começou com a ação desastrada da prefeitura derrubando barracos no Jardim Los Angeles, no dia mais frio do ano; em seguida, o transporte coletivo deu sinal que de que está empacando em função de medidas tarifárias amalucadas do ex-prefeito Marquinhos Trad; e, pra completar, desde ontem vem se revelando, pouco a pouco, a crise no setor de comunicação da prefeitura, com o famoso disse-me-disse, puxações de tapete, traições e ranger de dentes.
Como trabalhei 4 anos no local, alertei muitas vezes (em vão), que aquilo não tinha sustentabilidade. Mas o que adianta discutir assunto sério com um amador como o ex-prefeito.
A estrutura de marketing de Marquinhos Trad misturava perigosamente o público e o privado (um vício antigo), resvalando para o baixo estrato ético e moral de seus operadores.
No fim, a jornalista Lidiane Kober foi rifada e substituída por Elizabeth Cristina Oliveira Moreira, cujo apelido, “cascavel silenciosa”, já denota a personalidade da figura. Segundo jornalistas do setor, Elisinha será apenas uma figurante a representar um papel secundário numa tragédia anunciada.
O ator principal será um jornalista, Vassil Oliveira, veterano da imprensa goiana, que acumula no momento a função de marqueteiro de Marquinhos Trad, trazendo sua experiência com gestão de crise para ver se reduz os desgastes que a prefeitura e o ex-prefeito passarão a sofrer de agora em diante.
Vassil parece ser bom profissional, um bom texto, sabe agradar quem está no poder e tem livro publicado sobre bastidores de campanha eleitorais de seu Estado. Não sei se combinará com o estilo de Marquinhos, que detesta assessores que julga mais inteligente que ele, tanto que prefere se aconselhar com o baixo clero da imprensa sul-mato-grossense. Boa sorte, Vassil...
Historicamente, o setor de comunicação da prefeitura sempre foi um lugar problemático. Marquinhos tem um conceito de comunicação dos anos 50, e aposta tudo no personalismo disforme, numa atuação cada vez mais próxima de personagens que transitam entre os atores canastrões das telenovelas da Record com os velhos filmes populares de Cantinflas.
Seu método é a mentira sistemática. Seu apelido Pinóquio não pegou por acaso. A comunicação da prefeitura nunca teve diretriz nem comando claros. A compra de jornalistas e veículos era tratada por aspones, com participação direta do ex-prefeito. Não havia critérios. Ou melhor, havia. Quem ameaçasse com as melhores chantagens ( quase todas de cunho sexual) levava.
Lidiane Kober era a boneca de pano de pancadas. Era a vítima preferencial das humilhações do ex-prefeito. Marquinhos é dado a chiliques permanentes. Sua superintendente de comunicação servia pra isso: ser xingada, ameaçada, espezinhada.
Nos momentos mais tensos, ela surtava e transferia essa carga de maluquice para o restante da equipe. Claro, o desgaste intensificou-se durante os anos e ela passou a viver em depressão e crise nervosa. Sou testemunho vivo destes fatos. Pedi o boné no meio da pandemia entre perplexo e horrorizado com o que vi e vivi.
Foi, contudo, uma experiência válida porque pude acompanhar um psicopata em ação. Para o público, um sujeito manso, cordato, fala suave; para sua equipe próxima, um sujeito perverso, predador e assediador.
Acho que a prefeita Adriane Lopes terá a chance agora de iniciar o processo de distanciamento de Marquinhos. Se ela for uma mulher decente, que preza pelos valores da feminilidade, que diz adotar preceitos Cristãos, a vida então lhe abriu uma chance de ouro para alterar os rumos da prefeitura, sanitizando uma administração completamente contaminada pela loucura.
Hitler às vezes ainda vive e poucos percebem.