Dante Filho***
O Brasil é um País sem convicções. Os movimentos sociais por aqui só produzem espuma. Na política, tudo se transforma em piada. Dias atrás, lançaram na praça que estávamos na iminência de um golpe de Estado. Todo e qualquer boneco de ventríloquo tinha que repetir duas ou três vezes por dia que o golpismo era uma certeza. Qualquer analista de imprensa tinha que enviar uma senha ao politburo escrevendo em algum lugar, mesmo fora de contexto, a palavra “golpe”.
A ideia é de que Bolsonaro não aceitará ser derrotado por Lula e, por isso, contestando o TSE, mandará um cabo e um soldado resolverem a situação. O roteiro da trama já está escrito, mas seu desfecho terá nuances que nenhuma mente criativa ainda chegou lá.
Hoje esse enredo enfraqueceu-se. Poucos falam em golpe. Acho que olharam em volta e perceberam que esse tipo de coisa não assusta nem mobiliza o eleitor. O que verdadeiramente preocupa a cidadania é a inflação, a carestia, a permanente desigualdade e a miséria crescente.
Estamos distante de sermos um País civilizado. A pobreza e a falta de escolaridade da grande maioria jogam o sonho do futuro para um lugar mais distante, incerto e não sabido.
Haverá quase uma dezena de candidatos à presidência da República. Todos propondo a salvação da Pátria, com peças publicitárias que são fantasiadas de projetos estruturais, embaladas por uma magia para se transformar em realidade.
Na verdade, o Presidente da República e seus ministros, revestidos da imensa burocracia que lhes cobrem de poder, cada vez mandam menos. O poder real – aquele que faz e acontece – está nas mãos do Congresso Nacional (que opera o orçamento a seu bel prazer, tendo ainda à disposição bilhões de emendas secretas), no qual o presidente terá cada vez mais que ajoelhar e rezar como um pedinte.
O brasileiro ainda não sabe, mas vai eleger uma “rainha da Inglaterra”, e quem vai gerir o País serão bases parlamentares organizadas, numericamente expressivas, que darão as cartas e decidirão pra onde vai o dinheiro.
O outro pólo de Poder será o Judiciário. Ali vai se continuar dizendo o que se pode ou não fazer. Com o discurso (falso) de defesa da democracia Ministros do Supremo determinarão cada vez mais qual música irá tocar, como se deve dançar e qual fantasia se deve vestir. Mais: como a imprensa deve se comportar.
O Poder Executivo viverá a tibieza do personagem em busca de um texto. Claro, o presidente (seja qual for) vai reclamar, tentará retomar o controle e o poder imperial da caneta, mas ficará apenas com as narrativas judicantes, algumas aparições nas mídias, alertas ameaçadores, amarrado, de um lado, pelo Centrão, e, de outro, pela máquina judiciária.
Hoje é Bolsonaro, o ogro do momento, amanhã será outro, mas a essência talvez seja a mesma.
Política & economia
A política e a economia são imponderáveis. No começo do ano passado, quando as vacinas sinalizaram que venceríamos a batalha contra o Covid-19, os economistas, estudiosos, homens do mercado, jornalistas (eu, inclusive), acreditamos que, com a produção reprimida por um fator exógeno, em pouco tempo o mercado seria irrigado de maneira abundante, sustentado por trilhões de dólares emitidos pelos principais bancos centrais do mundo.
Um novo salto de prosperidade se daria e as coisas voltariam ao normal com grande rapidez. Nada disso aconteceu. A estrutura portuária entrou em pane. A mentalidade das pessoas havia mudado (o ideário do consumismo entrou em baixa), a Rússia entrou em guerra com a Ucránia, dando origem a uma crise energética sem precedentes.
Com isso, inflação voltou com alimentos mais caros, energia cara, renda reprimida, enfim, o cardápio doloroso que estamos vendo. Tudo isso vai passar? Sim, claro, mas quando isso acontecer o mundo será outro, as sociedades serão outras, a concepção de vida estará mais ativada pela raiva ancestral das ideologias mal construídas.
Mato Grosso do Sul: a que será que destina?
Onde Mato Grosso do Sul vai se inserir neste contexto?. Com um mundo híbrido, com mais diversidades de conceitos, mais dependente de tecnologia digital, com maior expansionismo do agro, com crescimento urbano desigual (no qual 60% da população se concentram em apenas seis dos 79 municípios), o futuro talvez nos revele um estado intermediário entre produtor de matéria-prima e corredor de passagem da rota bio-oceânica.
Estou especulando. Infelizmente, são poucos candidatos com olhar macro sobre a nossa realidade. Alguns estão preocupados em contar mentiras para dona Candinha e seu José. Outros querem limpar seu passado. Há quem deseje aprofundar nosso conservadorismo latente. E muitos estão aí fazendo apenas o jogo oportunista do mercado eleitoral, esperando amealhar algum para a próxima temporada. Por enquanto, ninguém está falando sério.