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Dilema estadual na eleição nacional

 



Dante Filho*****

Que as eleições deste ano serão extremamente polarizadas ninguém tem dúvida.  A linha divisória que demarcará as preferências num ambiente de disputa quase selvagem influenciará na concepção dos eleitores quanto a posição de seus candidatos estaduais. 

Claro, essa influência será relativa, às vezes mitigada pelos acontecimentos locais, valores regionais. Mas a força catalisadora do quadro nacional terá incidência no comportamento dos candidatos, nos seus discursos, na forma de se apresentar ao público, nas mídias etc. 

Ainda não cravo que Lula e Bolsonaro dividirão o jogo até outubro. Se surgirá das cinzas uma “terceira via” (nome inadequado) ainda é um espaço em aberto. O que sei, por experiência no acompanhamento de eleições desde 1989, é que o improvável acontece. Um avião cai, surge uma candidatura inesperada, aparece uma facada...

Os franceses dizem que o dia eleitoral tem o tempo da eternidade. O que se dirá de 5 meses. Os fluxos e contra-fluxos de uma campanha transformam preferências muitas vezes consolidadas em indecisões e alterações conceituais em relação a qualquer dos candidatos que aí estão. A história ensina. 

Sabemos que pesquisas no volume que vêm sendo divulgadas tem o poder de presentificar a realidade eleitoral. O tempo futuro deixa de existir. Mas a estatística não é um elemento mágico.  Os números podem inclusive redirecionar tendências, mesmo porque eles, na maior parte das vezes, sofrem impacto dos fatos e falas dos candidatos. 

A pergunta que sempre faço é se nos próximos meses, conforme as campanhas evoluem, os debates, a propaganda televisiva, a movimentação das militâncias e de cabos eleitorais mudará o rumo das escolhas. 

Uma coisa é certa: quem tem a caneta nas mãos – como são os casos de Bolsonaro, no plano nacional, e de Eduardo Riedel e Marquinhos Trad, no estadual (apesar dos dois usarem canetas terceirizadas) tem uma vantagem natural conforme o tempo passa. Mas o imponderável pode gerar boa sorte a Puccinelli, Rose Modesto, Capitão Contar etc. Quem viver, verá. 

Tenho acompanhado o comentarismo sobre as eleições e verifico as dificuldades de se desenhar um cenário mais ou menos assertivo sobre o que vem pela frente. Por enquanto, todo mundo está chutando. Mas chegará a hora em que as especulações e fake news gerarão mais dúvidas do que certezas, mesmo porque as pulsações das ruas indicarão qual caminho o eleitor está decidido a percorrer.

A impressão prevalecente da eleição presidencial é de que a economia vai influir com muito peso na escolha do eleitor. O Governo Bolsonaro está indo mal, toldado pela insensatez de suas próprias decisões e por um cenário econômico internacional cada vez mais complicado. Conseguirá mudar a pauta (como vem tentando) e criar um drama emocional que leve a massa noutra direção? Reparem: Lula tem evitado mostrar seu programa econômico. É um erro.

Na eleição estadual, está cada vez mais claro que o continuísmo prevalecerá. Digo continuísmo de modelo, de lógica de gestão, focado em obras de infraestrutura e integração micro-regional. Não é hora do chamado “candidato da mudança”, mesmo porque não há demandas expressivas nesse sentido. 

Talvez seja o momento do candidato da estabilidade, do previsível, que dê seguimento ao tucanato. O eleitor de Mato Grosso do Sul (principalmente o de Campo Grande) sabe o custo de escolher gente maluca para administrar seu destino. 

“Milícia Política” – Na semana passada intensificaram-se as denúncias na prefeitura de Campo Grande de que servidores estavam sendo coagidos a adesivarem seus veículos e obrigados a seguir cotas de curtições em postagens nas redes sociais. A prefeita Adriane Lopes não tomou atitudes contra essa prática da República Velha, consentindo que a formalização de cabrestos eleitorais prevaleça em pleno século XXI. Deve rever seus conceitos. 

Simone Tebet – Num Brasil diferente a candidatura à presidência da Senadora Simone Tebet seria uma benfazeja novidade. Percebe-se, contudo, pelas dificuldades interpostas, que não é o momento. No plano nacional, ela vem sendo corroída pela turma de Renan Calheiros. Na esfera estadual, seu ex-padrinho André Puccinelli parece que está dando a maior força para triturá-la. Simone não está vivendo um bom momento. Alguém acredita que João Dória topa ser seu vice? Não vale rir.

Marquinhos versos Riedel – Outro dia, na rádio CBN, em entrevista, Marquinhos Trad afirmou que o eleitor ainda não sabe como pronunciar o nome de Riedel. Se esta for a única critica que ele tem contra o adversário, é melhor encontrar outra piada.



Artigo publicado originalmente no jornal O Estado de Mato Grosso do Sul