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Adriane Lopes cria milícia política na prefeitura de Campo Grande

 

Adriane Lopes é acusada da constranger servidores a tomar posição eleitoral


Dante Filho***


Vem de duas semanas avolumando-se denúncias entre servidores municipais de Campo Grande de que a prefeita Adriane Lopes criou uma milícia política para obrigar servidores comissionados e concursados (que têm familiares com algum tipo de vínculo profissional com a prefeitura) a manifestar apoio à pré-candidatura de Marquinhos Trad ao governo do Estado. 

Se a reclamação partisse de um ou dois chatos de plantão, juro que nem daria pelota. Mas são dezenas, inclusive pessoas sérias, técnicos com longa data de serviços prestados à administração, que estão simplesmente escandalizados com o exagero da truculência exibida.

O costume não é novo. Desde a República Velha o voto de cabresto e a formação de currais eleitorais  habita nossa realidade eleitoral, com modificações de forma e modo conforme o tempo passa. 

No caso específico das denúncias que vem chegando a este escriba, fica patente a inércia do Ministério Público eleitoral, que não demonstra apetite para ver o que está acontecendo. Está pegando mal.

Nas conversas mantidas com vários servidores, até que tentei minimizar o fato, naturalizando as ocorrência ( na base de que “todos fazem isso”), mas fui advertido que até o momento não houve registro de coisa semelhante por parte do Governo do Estado, prefeituras do interior, nem mesmo da Assembléia Legislativa e Câmara de Vereadores. 

A reclamação básica dos servidores de Campo Grande é o terrorismo que vem sendo colocado em prática, com vigília acirrada sobre aqueles que não adesivam seus veículos nem cumprem uma cota diária de curtições de postagens do ex-prefeito nas redes sociais. 

Há uma tentativa de controle exagerado sobre as manifestações públicas de servidores, com a alegação de que ocupantes de cargos de confiança são obrigados a dar apoio ao ex-prefeito sob pena de sofrerem represálias em qualquer tempo, intempestivamente. 

E o mais grave – ainda conforme as denúncias – é de que a prefeitura colocou na proa desse processo o setor de comunicação social, transformando jornalistas e publicitários em vigias portentosos para dedurar quem não transforma seu carro particular ou perfis sociais em instrumento de propaganda pró-Marquinhos . Depois reclamam do aviltamento da profissão de jornalista, nestes tempos em que a função confunde-se com a de meros cabos eleitorais. 

A grande maioria dos eleitores tende a minimizar a gravidade desse modus operandi. Mas todos sabem que quando um candidato entra em desespero ele se transforma num monstro autoritário, mandando às favas os escrúpulos de consciência, “fazendo o diabo”, como diria Dilma Roussef, atropelando o bom senso e a democracia para mostrar à sociedade que naquele curral (no caso, a prefeitura) quem manda é o coroné da vez. 

Acho estranho que a prefeita Adriane Lopes compactue com esse tipo de coisa. Ela é uma mulher suave, cristã de boa cepa, pastora de bom rebanho, esposa e mãe zelosa, não tendo até hoje apresentado registro de fazer política com sangue nos olhos. 

Se ela está apoiando milícias e patrulhas a adotarem práticas truculentas e repressoras sobre servidores, em atitudes que nem pertencem à velha política e, sim, à anti-política, então  realmente o futuro que vem pela frente é o mais sombrio que se possa imaginar. 

Claro que quem já atuou no serviço público sabe que chega um momento em que a tigrada que vive no entorno do poder sente a necessidade de dar uma demonstração de força, transformando a ética, a moral e a legislação vigente em estrume de vaca, mas não precisa ser desse jeito. 

Lembro que anos atrás um candidato a prefeito viu a centelha de sua derrota quando um vídeo espalhou-se pela cidade mostrando o ex-governador André Puccinelli cabresteando votos em reunião eleitoral com servidores comissionados. 

Seria constrangedor se o mesmo acontecesse com Marquinhos Trad e sua trupe de malucos. O discurso tem que ser instrumento da prática.  

Sobressai claramente a impressão de que Adriane Lopes é a prefeita, mas quem manda e desmanda na prefeitura continua sendo o ex-prefeito. Deplorável isso. Campo Grande está andando para trás em todos os aspectos. 

Ainda dá pra corrigir essa besteira.