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Campanha eleitoral de MS e seus labirintos




Dante Filho *******

É chato ter que escrever isso: Marquinhos Trad deu a primeira pisada feia na bola de sua campanha eleitoral quando o Campograndews revelou que o transporte aéreo de sua candidatura vinha por conta de uma empresa de fachada pertencente ao famoso Zeca Lopes, personagem sombrio de nebulosas transações de nossa política, amigão do peito de Delcídio do Amaral, preso e acusado de crimes de pedofilia, sonegação de imposto, corrupção etc. 

No primeiro momento, tentou-se empurrar o abacaxi para o juiz aposentado Odilon de Oliveira , candidato ao senado pelo PSD, que, no passado, foi quem autorizou a PF a investigar e depois colocar a ferros José Carlos Lopes . Mas Odilon declarou que apenas  “estava pegando carona com Marquinhos” para viagens ao interior num aviãzinho de 5 lugares.  

Perguntado sobre os motivos de estar na bagagem aérea, o ex-juiz saiu com a prosaica resposta: “como vou adivinhar de quem é o avião? Fiquei sabendo agora!”. O homem deve ser santo.

Certamente, os áulicos do PSD encontrarão melhores respostas durante a semana, tentando criar uma versão mais palatável para o acontecido, mas pegou muito mal para Marquinhos porque seu porta estandarte de campanha é a do “homem com mãos limpas e de passado irretocável”.  Com qualquer ligação com Zeca Lopes, é impossível acreditar nisso.



Se o ex-prefeito da Capital ouvisse conselhos ( e prestasse atenção no que gente decente diz a ele) procuraria ser mais cuidadoso com a escolha de seu entorno, principalmente neste momento em que todos os seus adversários estão concentrados em desconstruí-lo. 

Sua fama de Pinóquio já colou. A cidade em que Marquinhos diz que é a melhor do Brasil vive o caos. As finanças da prefeitura estão com as pernas bambas. Sem contar as maledicências que andam correndo feito rastilho de pólvora em torno da herança que deixou para a atual prefeita Adriane Lopes. 

Ele divulgou que deixou R$ 1,5 bilhão no caixa da prefeitura. Quando se pergunta para os técnicos  da prefeitura se tal fato é verdadeiro, a resposta vem na forma de um retumbante silêncio. Complicado.

Noutras palavras, Marquinhos é um personagem em busca de um texto. Se vai encontrar as palavras certas, não será junto com o ex-juiz Odilon num avião de Zeca Lopes.

Para Marquinhos e os demais candidatos (Puccinelli, Rose e Riedel) o atual momento é delicado demais para se enfrentar escândalos.  No meio de uma campanha pode até ser administrável, mas na largada é um pecado mortal. Estar associado com Zeca Lopes vale ajoelhar em cima do milharal e rezar quinhentas aves marias para ver se deus perdoa. 

O eleitor, certamente, poderá esquecer lá na frente, mas seus adversários, não. 

O esforço de Marquinhos para estar mais presente em várias cidades interioranas em curto espaço de tempo insere-se na lógica política adversativa,  porque no ano passado, por conta do processo de vacinação da pandemia, o ex-prefeito cometeu o erro de impedir que doses únicas da Jansem atendessem 13 municípios da região de fronteira. Ali se fomentou uma briga antiga, que está latente da sociedade sul-mato-grossense, da Capital versus interior. Com esse sentimento não se brinca.

Neste aspecto, para o ex-prefeito tornar-se competitivo ele terá que percorrer dezenas de municípios para conseguir, intuitivamente, formular um discurso que contraponha a máquina operacional do Governo do Estado, que vive um momento excepcional, o que dá margem a se pensar que o eleitorado vai apostar no continuísmo e não na oposição. 

Essa é uma equação complexa. Só que os políticos profissionais sabem disso. Os amadores apostam na sorte. Vamos ver no que vai dar...

Nas primeiras visitas do ex-prefeito ele percebeu que poderá contar parcialmente com Dourados ( segundo maior colégio eleitoral do Estado, com 7% dos eleitores) e outros pequenos lugarejos. Mas enfrenta resistência por conta de não cumprimento de acordos da Família Trad  (no interior ninguém diferencia quem é quem quando se trata de políticos com o mesmo sobrenome), embora Marquinhos confie em seu charme e fala mansa para contornar a situação. 

Enquanto “isso, Puccinelli e Rose seguem com uma campanha “ discreta” (limitando-se a entrevistas leves à imprensa e postagens ruins nas redes sociais), enquanto Riedel corre para capitalizar inaugurações de obras, lançamento de projetos , acordos com prefeitos e vereadores, carregando o governador, a ministra Tereza Cristina e dezenas de prefeitos e lideranças políticas, sem ter ainda uma estratégia para descer às camadas mais profundas da sociedade, lugar onde Marquinhos, André e Rose são personagens conhecidos e ramificados em função de ter exercido cargos com profundos vínculos com a massa bruta de eleitores. 

Mato Grosso do Sul tem quase 2 milhões de eleitores, dentre os quais 33% residem em Campo Grande. Os 67% restantes estão espalhados por 78 municípios, sendo que 20% residem em Dourados , Corumbá, Três Lagoas, Naviraí e Maracaju. 

Analisando pesquisas publicadas e internas tudo indica que Puccinelli disputará o segundo turno com um dos três pré-candidatos. Neste processo, caso as campanhas não reorientem tendências eleitorais, Rose tem chances modestas enquanto Marquinhos e Riedel podem disputar com chance real de vencer.  

Só que Marquinhos está sendo rifado por conta de seus próprios erros e do seu próprio perfil pouco gerencial, sem identidade ideológica e por atribuir a si mesmo dons divinatórios. Credibilidade e consistência de propósito será a matéria dura dessa campanha. 

Se o ex-prefeito não conseguir diminuir o tamanho de seu ego, entrará em julho ( tempo que será decisivo na atual campanha) sem nenhuma chance de chegar lá. 

Vamos aguardar.