Dante Filho****
A primeira vez que ouvi a palavra ecologia foi no começo da década de 70. Um professor de biologia do colégio publico onde eu estudava, no interior paulista, trouxe a grande novidade.
Depois disso, o tema tornou-se recorrente e assim eu fui aprendendo sobre o assunto.
Em 1978/79 fui fazer cursinho em São Paulo e, um belo (?) dia, a cidade amanheceu cinza, com uma névoa densa, que impossibilitava que enxergássemos poucos metros adiante. Um calor sufocante, uma fumaça pesada, nunca tinha visto aquilo, fiquei assustado. Muita gente foi hospitalizada com problemas pulmonares.
No dia seguinte, os jornais diziam que tudo o que ocorrera foi um fenômeno natural que adensou de maneira inédita na forma de uma forte poluição na cidade, gerando um ambiente distópico, levantando a tese de que as grandes cidades começariam a morrer sufocada por causa da fuligem tóxica irrespirável. Não era um fenômeno "natural".
Aquela situação gerou pânico e imediatamente as autoridades convocaram jovens para trabalhar no departamento de trânsito com remuneração de 2 salários mínimos por mês, com carga horária de 2 horas, para monitorar o fluxo de veículo nas principais vias da cidade. Fui nessa animadamente.
Ali pude perceber fisicamente a gravidade do problema. A contagem da passagem dos veículos era feita com um cronômetro especial que funcionava à base de percepção visual.
Para cada veículo que passava num determinado lugar, acionávamos o botãozinho, cujos números transferíamos posteriormente a uma base de dados, que, na somatória geral, permitia que se medisse em quais regiões o fumacê dos veículos podia ser mais intenso e causasse mais poluição.
Depois dessa experiência, minha atenção ao tema dobrou. Não me tornei um ambientalista porque a preocupação, na época, era a luta contra a ditadura. Mas víamos que havia movimentos nos Estados Unidos, Europa, Alemanha (que havia criado um Partido Verde), remanescentes da voga da contracultura.
Logo em seguida, eclodiu a questão das camadas de ozônio (que atualmente anda em baixa, já que ninguém lembra muito do assunto).
Cientistas previam que se o desaparecimento da camada de proteção do planeta desaparecesse em 30 anos, adeus futuro, viraríamos um cenário de Mad Max. Bem, posso dizer que esse tempo já passou e pelo visto estamos aqui. Melhores? Piores?
Sei que existe algo diferente que anda acontecendo com os fenômenos meteorológicos por aí. Em 1988, por exemplo, em Mato Grosso do Sul, houve um período de estiagem que gerou uma "névoa seca" decorrente da intensidade das queimadas no norte e centro-oeste brasileiro. Foi muito grave.
No período, a mídia falou quase nada sobre o assunto, e só ficamos sabendo o que, de fato, ocorrera depois de dois ou três anos à frente. Com o tempo, a "névoa" se "normalizou", acontecia todos os anos, entre agosto e outubro, embora o número de queimadas só aumentava. Mas, observando empiricamente, percebo, na média, nos últimos 20 anos, que houve uma redução da fumaça, mesmo com a intercalação de estiagem e chuva como sempre houvera.
De lá pra cá, reconheço que o ativismo ambiental cresceu e se tornou uma atividade política em várias esferas. Sou informado de que existem mais de 3600 estudos de cientistas renomados que afirmam que se não revertemos a emissão de CO2 originários de combustíveis fósseis a raça humana caminha para a extinção.
Esses estudos provém de uma base de cálculos fornecidos por algoritmos que sustentam estudos amplos de solo, árvores, camadas polares, solo etc de vários lugares do planeta e que demonstram que há um aumento de CO2 na atmosfera que está modificando profundamente a vida dos biomas. .
Vejo também que há pesquisas (uns 1800 trabalhos) na contracorrente, mas estas têm fontes financiamento suspeito e precário. O que eles dizem basicamente? O quadro é grave, mas a natureza tem imensa capacidade de autoregeneração, bastando acionar gatilhos corretos para evitar catástrofes. Verdadeiro ou falso? Os números dizem que nada disso se sustenta. O mundo vai mal...
Em toda a história da humanidade sempre houve quem pensasse de forma diversa, não aceitando teses postas e consagradas pela publicidade, brigando por suas ideias, mesmo equivocadas, contrariando a melhor ciência, mistificando aqui e ali, mas num balanço dos últimos séculos podemos extrair disso experiências positivas porque,às vezes, uma teoria errada ajuda a iluminar caminhos no encontro de soluções mais consistentes.
Nesta semana li uma entrevista do ativista ambiental George Monbiot, um jornalista britânico que inclusive conhece muito o Brasil e vem se dedicando ao assunto, com teses e livros muito conhecidos e divulgados agora na COP26, em Glasgow.
Os jornalistas da Folha de S.Paulo que o entrevistaram se colocaram numa posição de cautela respeitável em relação às posições de Monbiot, que prega a proximidade do apocalipse, rejeitando inclusive o termo "mudanças climáticas" por achá-lo muito leve e pouco alarmista.
Neste aspecto, aterrorizar a sociedade é mais sábio e politicamente correto.
O jornalista Britânico reconhece que a "terra é um sistema complexo; os oceanos, idem; os solos também, a biosfera também...nada se comporta de maneira linear. Podem absorver muito estresse e manter um estado de equilíbrio, mas podem colapsar de repente".
No dúvida, aposta-se em exageros apocalípticos.
Ou seja: o colapso é uma hipótese em meio a tantas outras. Mas é a hipótese dominante. A maioria dos cientistas acredita que haverá uma virada ( quando? como? ninguém sabe), fundando assim um sistema de crença que deseja empurrar o mundo para a formulação de um pacto de sustentabilidade.
Do ponto de vista político, o ambientalismo é uma bandeira perfeita. Seus adeptos não perderão nunca qualquer argumentação ou previsão, mesmo que pareça maluca e oportunista.
Primeiro, se os países em conjunto darem uma guinada, mesmo que seja gradual, para a mudança do sistema de geração e administração do capital (o famoso Capitalismo global), isso certamente levará mais de 100 anos para encontrar um novo eixo de ajuste. Com um tempo tão longo como esse, difícil saber que diferença fará quem estava certo ou errado no momento atual.
A ciência pode muito, mas não tem o dom divino de prever o futuro à perfeição. Ela formula hipóteses e as testa para tirar suas conclusões em micro ambientes. Mas quando se trata de mundo real, o imprevisível pode acontecer.
Digamos que a turma de Greta Thumberg e seus miquinhos amestrados estejam corretos. Se nada for feito, todos sucumbiremos, certo? Luminares e obscurantistas nem poderão debater mais a questão, não haverá culpabilidade geracional para ser cobrada, muito menos acerto de contas. Todos estaremos mortos, correto?
Diante disso, é preciso que tenhamos pelo menos fé (sei que a palavra é um contrassenso) de que se criamos o problema para o planeta teremos capacidade para resolvê-lo. Acho.
O caminho do cavalo de pau sistêmico pode até ser eficaz, mas liquidará em mais ou menos 50 anos uns 30% da população do planeta, que morrerá de fome e guerra. Parar de comer proteína animal, desligar o complexo sistema industrial, retroagir paulatinamente para uma cultura menos consumista, na teoria é lindo, mas na concretude da vida tem um custo humano imponderável.
Concordo com quase tudo (teoricamente) das atuais bandeiras ambientais. Vejo que muita gente faz o mesmo porque assim mostra para todos os amigos e familiares que é desse jeito que podemos mostrar que somos bacanas.
Por mais irônico que isso seja, vejo que o ambientalismo é consensual, mas ninguém deseja ir mais fundo e problematizar esse consenso para encontrar caminhos alternativos que envolvam interesses das economias que enfrentam imensas desigualdades sociais.
Por enquanto, o engajamento fica adstrito às classes médias e aos meninos e meninas megacabeças do mundo rico.
Vejo nos últimos eventos na Europa, com reunião dos principais países, com exceção de China e Rússia ( o que, na prática, significa que tudo é discurso para agradar os miquinhos de Greta) que daqui uns dias o evento de Glasgow foi mais uma balada animada dos apocalípticos do mundo melhor.
Tudo continuará na mesma. Como diria Lord Keynes, com essa gente, a longo prazo, todos estaremos mortos...