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O Bolsonarismo em Mato Grosso do Sul

 




Dante Filho¨***



Pesquisas apontam que em Mato Grosso do Sul Bolsonaro tem peso político. O Estado é tido como um dos redutos do conservadorismo brasileiro por causa de sua base econômica centrada no agronegócio. 

Mesmo achando temerosa fazer essa relação automática, há consenso em torno dessa narrativa.

Mesmo que esse fator ajude a explicar muita coisa sobre as preferências políticas de nossa sociedade, é preciso considerar que mais de 60% dos votos estão concentrados em 5 dos 79 municípios. Deste total, Bolsonaro pode ter uma preferência relativa, algo em torno de 30%. 

Dos 1,8 milhão de eleitores de Mato Grosso do Sul digamos que hoje Bolsonaro possa amealhar - caso nada aconteça - mais ou menos uns 550 mil votos no nosso território. 

No cenário nacional, é pouco, mas numa eleição polarizada é muito. 

Mas olhar números como esses no momento não faz diferença para o povo da nossa política. Será preciso esperar as definições nacionais para ver como cada ator político relevante no cenário estadual se posiciona. 

Intui-se que o Bolsonarismo por aqui é forte e não tem dado sinais de arrefecimento. O Lulopetismo tornou-se uma força lateral, com pouca expressividade, extremamente dependente das correntes de direita e centro-direita, mantido sob respiração artificial, sem pauta e sem discurso que galvanizem parcelas ponderáveis do eleitorado. 

Se Lula pontua bem nas pesquisas por aqui (sua taxa de rejeição é equivalente) deve-se mais ao recall de seu tempo na presidência do que a uma preferência autêntica baseada em fatores objetivos.

Ainda não se sabe exatamente quem serão os candidatos ao governo do Estado. Os nomes que circundam por aí são nuvens. Há vontades manifestas aqui e ali, há gente bailando no canto do salão, há sonhadores acreditando que o cavalo passará encilhado na porta de sua casa, mas tudo por enquanto é tudo ensaio. 

E se todos os nomes forem confirmados, é provável que passem pano para os horrores de Bolsonaro, porque, bem, campanha é um jogo de soma e não de divisão...

O palanque estadual dependerá ainda de decisões nacionais. 

Seja qual for o cenário do teatro de operações o bolsonarismo será um fator a empurrar gente pra lá e pra cá, não somente por causa da militância fanática, mas muito por causa do poder da máquina e da imensa capacidade de produção de fake news.

Alguém consegue ver as candidaturas do MDB, PSDB, União Brasil, Podemos etc., muito longe de Bolsonaro, gritando "Lula Livre" ou endossando a tese do "homem mais honesto do mundo"?

Para o Governo de MS até o momento não há candidatura de esquerda. Ah!, tem o Zeca do PT! Difícil. 

Tem-se a impressão de que sua candidatura é apenas midiática para não permitir a dispersão da tropa. 

Os partidos do chamado campo progressista tem feito um combate sem trégua à Bolsonaro no MS, repercutindo a pauta nacional, mas sente que, por aqui, o conservadorismo cravou seus dente e não larga.

Outro caso curioso: a maioria dos partidos quer abraçar a candidatura ao senado da ministra da Agricultura Tereza Cristina, uma bolsonarista claudicante, embora todos saibam que estar ao lado dela poderá significar apoio majoritário do agro, com recursos fartos e logística de campanha na área de publicidade. 

No Mato Grosso do Sul nenhuma candidatura decola sem apoio do pessoal do campo.

Nenhum dos pretensos candidatos ao governo e aos parlamentos dará a mínima em ser associado ao "bolsonarismo" de Tereza Cristina, que, certamente, não é aquele que mata e esfola os adversários na rua da amargura. 

Tereza é exemplo da cara de paisagem que notabiliza parte da equipe soft do presidente maluco.

Será engraçado assistir a uma campanha em que quase todos terão que, fisiologicamente, se colocar ao lado do presidente, moderando qualquer reparo que se possa fazer ao seu comportamento negacionista e protofascista, para não perder votos do vasto eleitorado de centro e de direita do Estado. 

Política é a arte do pragmatismo. Claro que os elementos que fundamentam a realidade do Brasil, que ora vive um quadro caótico, com inflação em alta, preços nas alturas, com o sistema mundial de comércio totalmente desarticulado - sinalizando que enfrentaremos problemas graves de abastecimento - rebaterão com vigor num ambiente eleitoral cada vez mais tenso, complexo e divisor..

Mas digamos - conforme escrevem alguns analistas independentes - o cenário comece a se modificar a partir do final do terceiro trimestre de 2022, espraiando uma sensação de bem-estar, que potencialize o discurso da direita? Tudo é possível.

Conhecendo nossos políticos, com seu senso de oportunismo irrefreável, alguém consegue vislumbrar as bandeiras de oposição tendo peso significativo nesse contexto? 

Será que a memória da pandemia, da crise crônica, do estouro do teto de gastos, da corrupção desenfreada no ministério da Saúde e das rachadinhas familiares serão cristalizadas na percepção da coletividade para que se transforme em votos concretos nas urnas?

Não sei. Pode ser que sim, pode ser que não. Vivemos tempos de incertezas.

Aqueles que vislumbram candidaturas na esfera estadual sem reunir elementos nacionais ( ou vice-versa) saberá qual o melhor caminho, não podendo esquecer  que no futuro pagará um caro tributo à história. 

Como se diz, as conveniências eleitorais suplantam o senso moral e todos ficam sujeitos às suas circunstâncias. Ao eleitor (a) cabe por ora a fazer exercícios em torno da seguinte hipótese: com quem se aliará meu possível candidato a governador?