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Um aquário no meio da cidade incomoda muita gente



Dante Filho ****


Finalmente, o governador Reinaldo Azambuja anunciou o término das obras do Aquário Pantanal para o próximo ano (cruzem os dedos). 

Ele pegou o filho indesejado e jogou no colo de seu principal secretário, Eduardo Reidel, que desponta como forte candidato ao governo do Estado em 2022. Trata-se de uma jogada política. Pode dar certo, como virar uma zebra.

Azamba prometeu entregar o Aquário em cinco meses. É improvável. Mas até aí, como se diz, é jogo jogado. 

Como se sabe, a criação desse notável elefante branco, que há anos dormita nos altos da avenida Afonso Pena, na boca do Parque dos Poderes, reluzindo sua espantosa arquitetura (projeto do mundialmente famoso Ruy Ohtake), só produziu escândalos. 

Arrasta-se no tempo brigas judiciais inextrincáveis, discussões estéreis, além de caminhões de recursos públicos jogados naquele ralo que deságua entre o  Prosa e o Segredo, sem que nenhum resultado concreto fosse produzido além de encrenca. 

Por conta da imensa disputa entre quadrilhas que se travou nos últimos anos, o Judiciário e o Tribunal de Contas entraram no meio de um negócio de mais de R$ 300 milhões, não só para administrar o mafuá como para tentar compreender o emaranhado de fios desencapados que encontrou dentro de várias caixas pretas para poder liberar a execução do empreendimento, turvando, com idas e vindas, o destino desse complexo projeto turístico. 

O conjunto da obra pode ser resumida em poucas palavras: incompetência, inércia e descaso com o dinheiro de nossos impostos.

Como um dos Conselheiros do TCE à época foi o artífice e o operador dessa zona toda imaginava-se que seria fácil matar mais essa no peito. Não foi o caso. Mas isso é outra história...

Pelo que se sabe, parte do processo foi solucionado depois de quase dez anos de vai-não-vai, faltando agora resolver os contratos de operacionalização, o que poderá levar mais alguns anos, embora se saiba que para os interesses políticos da República de Maracaju será melhor entregar a casca, deixando o miolo para as calendas.

Enquanto isso, a obra física apodrece todos os dias, tornando uma visão desagradável para quem visita a  Capital com a ideia de que se trata de um lugar de futuro. O "Aquário" desmente essa fantasia.

Acho que nem vale mais a pena discutir a relevância ou a inutilidade do monumento. Como a carcaça ficou praticamente pronta na despedida do ex-governador André Puccinelli, em 2014, seria natural que Azamba fizesse os peixes nadarem num prazo razoável. 

Não fosse a pinimba, provavelmente estava tudo pronto.

O governador nunca escondeu que era radicalmente contra o Aquário porque na cabeça dele a dinheirama gasta ali seria mais útil se fosse investido no setor de saúde. Há muitos empreiteiros e especialistas que discordam, mas tudo é questão de enfoque, de mentalidade e de conceitos. 

O que se sabe é que em 2022 que a questão do Aquário Pantanal tornou-se bizantina. Se o governo não der andamento na sua execução - como vem fazendo precariamente - o mico político cairá na conta de alguém. Adivinhe de quem?

O mundo real pede também uma leitura extensa do problema gerado por obra dessa magnitude e com tamanha visibilidade em nosso Estado. 

O elefante branco é um enclave político que certamente será motivo de debate na campanha eleitoral que se avizinha. Se Puccinelli for realmente candidato a governador, vai apontar o Aquário como negligência administrativa de Azambuja. Ou seja: o governador não serviu para fazer o básico. 

Diante disso, caso tal aconteça, Azamba terá duas saídas: falar que deixou tudo pronto nas mãos de Riedel, lavando as mãos, apontando que aquele que for eleito terá que colocar o elefante para caminhar, além de fazer os peixinhos nadarem, ou, em último caso preparar tudo para uma "inauguração" fajuta para não dar palanque ao principal adversário. 

Eu aposto na segunda alternativa. Veremos.