Dante Filho -
Análise politica -
O Campograndenews publicou uma nota sobre a passagem da Ministra da Agricultura Tereza Cristina, neste final de semana, no Bairro Nova Lima, em Campo Grande, para inaugurar uma unidade do Sebrae.
Seria mais um ato de campanha eleitoral, mas o
site registrou uma situação curiosa. Tereza chegou atrasada ao evento
(preparado especialmente para ela), fez um discurso confuso, trocou o nome do
prefeito da Capital e mostrou-se irritada com a imprensa.
“Ao ser questionada se iria aos
atos de 7 de setembro, ficou muda. Não quis responder apesar da insistência do
Campo Grande News e foi retirada às pressas do local pelo diretor-presidente do
Sebrae, Cláudio Mendonça”, escreveu o site.
O Presidente Bolsonaro não
economiza elogios à sua Ministra do Agronegócio. Outro dia mesmo, afirmou que
“ela vale por dez”. É fato que Tereca representa um dos setores economicamente
mais avançados da economia brasileira, responsável pelo empuxo do PIB.
O
problema é que, ao mesmo tempo, parcela ponderável do agro, representa
politicamente o setor mais conservador e atrasado da sociedade brasileira.
Quem acompanha a história pessoal
e política da Ministra sabe que ela nunca conviveu bem com ambivalências. Sua
relação no PSDB e PSB – todos sabem – nunca foi marcada por adesão partidária e
ideológica. Ela se pauta por conveniências pessoais. Hoje ela está no DEM,
amanhã, quem sabe.
Tanto com os tucanos como com os
socialistas ela conviveu com a ameaça permanente de expulsão. Sua natureza
carrega a necessidade de obedecer a vários senhores ao mesmo tempo,
principalmente aqueles que têm muito dinheiro, a exemplo de Joesley Batista, da
JBS.No fim, ela quer se dar bem, não importa como.
Quem teve oportunidade de
acompanhar as lifes de Bolsonaro com a presença da Ministra pode perceber que,
durante as falar malucas do presidente, ela parecia uma esfinge, não movia um
músculo nem se expressava com o olhar. Ela se comportava como uma estátua de
cera e, por sorte, a imprensa sempre foi generosa, nunca fazendo associações
negativas nem folclóricas sobre essa performance.
Tereza pertence a uma das
famílias mais “aristocráticas” de Mato Grosso do Sul, com proeminência na
política nacional desde os anos 40 do século passado, no antigo Mato Grosso,
com origem numa linhagem oligárquica que remonta ao final do século XIX. Enfim,
Tereza Cristina, de alguma forma, sempre esteve no centro do poder, embora uma
vez tenha tentado ser prefeita do pequeno município de Terenos, próximo à Campo
Grande (onde a família ainda tem uma pequena propriedade rural), tendo sido
derrotada por pequena margem de votos.
Quando adolescente, Tereza era
motivo de fofocas das moças de classe alta de Campo Grande porque toda a viagem
que anualmente fazia à Europa e aos Estados Unidos ela pegava de empréstimo
roupas e luvas para o inverno rigorosos dos lugares que visitava e nunca mais
devolvia. Ninguém falava nada, porque, afinal, era “gente importante”.
Mas essa questão trivial nunca
foi assunto que merecesse atenção, pois não se atribuía atos menores ao caráter
de pessoas de alta classe. Tomar o que é do alheio confere honra ao ludibriado,
reza a lenda local.
Isso mudaria significativamente
quando os pais de Tereza faleceram e ela se tornou inventariante do espólio.
Como tudo correu em segredo de justiça muitos rumores surgiram na época entre
seus irmãos, com acusações de falsificação de assinaturas, apropriação indevida
de bens móveis e imóveis, enfim, aquelas coisas que fazem com que as famílias
infelizes sejam infelizes cada uma à sua maneira.
No governo de André Puccinelli Tereza assumiu
a pasta da Agricultura na chamada cota do tucanato. No entanto, quando o PSDB
rompeu com o MDB numa rumorosa decisão, devendo em seguida fazer a entrega dos
cargos ao partido no poder, ela tergiversou e fincou o pé. Afirmou que ficaria
com André, mas não deixaria o PSDB.
Aí abriu-se o processo de expulsão, que não
foi concluído porque ela foi constrangida a tomar uma decisão, ficando com o
cargo e filiando-se a um partido de esquerda (PSB). Também não durou muito.
Mas essa não foi a única saia
justa deste período. Defendendo interesses de grandes empresas do setor
agropecuário por benefícios fiscais vantajosos, Tereza enfrentou a ira do
secretário de Fazenda à época, Mário Sérgio Lorenzetto, que uma vez a expulsou
da sala quando ela acompanhava o presidente de uma companhia de esmagamento de
grãos em uma audiência, chamando-o de “sonegador”.
Uma das mais notáveis
características pessoais da Ministra da Agricultura em Mato Grosso do Sul –
cujo status agora confere a ela a fama de intocável – são seus movimentos
dúbios. “A palavra dela vale o mesmo que uma nota de três reais; ela promete
uma coisa hoje, amanhã muda de ideia, é difícil confiar”, comenta um prefeito
do interior, com pedido obvio que seu nome não seja citado.
O grande problema de Tereza agora
é o fato de que a polarização acentuada da política a obrigará a tomar
posições. Ela não se sente confortável com a pauta de Bolsonaro. Mas pretende
ficar no cargo até o último momento para impulsionar sua candidatura ao senado,
num acordo que abrange, em Mato Grosso do Sul, o PSDB, PT, PSD, PDT, MDB e quem
mais couber. Alguns pretendentes ao cargo desistiram porque acham que será
difícil enfrentar a máquina que Tereza vai colocar nas ruas para ter uma
votação estrondosa, capaz de alavancar sua chegada ao Governo do Estado lá na
frente.
Mas, projetos políticos à parte,
ela não sabe o que fazer com o 7 de setembro. Se for para as ruas atendendo à
conclamação do Presidente abre uma frincha para o surgimento de algum outro
candidato dizendo-se do campo “democrático” contra as candidaturas do
bolsonarismo. Se não for, poderá atiçar os fanáticos do presidente, que poderá
entender nesse gesto traição, gerando desconfianças sobre qual a extensão de
confiança que Tereza merece.
Outro ponto que preocupa o
entorno da campanha da Ministra é o mistério que ronda a sua relação com a
ex-apresentadora de TV Bia Arraes, que, conforme comentários do famoso rádio
corredor, teria empurrado dezenas de nomeações de amigos e parentes, com
salários razoáveis, para dentro do Governo do Estado.
Enfim, Tereza pode até imaginar
que terá uma campanha fácil pela frente. Mas esqueceu que neste mundo cada dia
tem a sua agonia. Uma palavra errada, um gesto equivocado, um silêncio explicado,
tudo entra no balanço do secos & molhados, com resultados imprevisíveis.
Vamos esperar dia 7.