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Azamba no buraco

 


Dante Filho -- 

Na ultima quinta-feira, 15, viu-se nos corredores do poder um Capitão do Mato perambulando com olhar vago, meio pálido, quase em estado depressivo, silencioso como nunca. Numa conversa com assessores mais próximos o personagem comentou de cabeça baixa: não vamos chegar ao fim do Governo, está difícil. 

A cena foi descrita por um e outro, tudo, por enquanto, adstrita à famosa rádio servidor, instituição que aumenta, mas não inventa; multiplica, mas não amplifica. Veremos.

A tristeza do Capitão tinha uma razão de ser: acabara de sair a decisão unânime da Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ), confirmando a  indisponibilidade de bens ligados ao governador Azambuja e seus familiares e uma empresa a ele vinculada, no valor de R$ 277 milhões.

Em qualquer lugar do mundo, era de se esperar que, diante de um fato desta magnitude, no dia seguinte este fosse o principal assunto da imprensa local, com fortes manchetes, explorando as várias facetas da notícia. 

Mas isso não aconteceu. Tirando alguns sites aqui e acolá, a pauta foi tratada com certo desprezo, além de minimizada nos dias seguintes. 

Tal comportamento não torna nosso jornalismo um exemplo positivo. Fica uma impressão de certa cumplicidade inadequada ou de aderência remunerada, no qual os interesses públicos são bem menores do que o fluxo de caixa que mantém a roda girando.   

Claro que não custaria os fundilhos de ninguém publicar uma notícia seca com o devido destaque, lembrando a  denúncia do Ministério Público Federal (MPF), apresentada em outubro de 2020, envolvendo Azambuja, os empresários da JBS, Joesley e Wesley Batista, o ex-secretário de Fazenda de e atual conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, Márcio Campos Monteiro; além de outras 20 pessoas, que cometeram crimes de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e organização criminosa. 

Os fatos ocorreram entre 2014 e 2016. Só que estão aí, vivos, podendo custar a cabeça de muita gente importante, que amargará perda de mandato, exclusão da vida política e até prisão.

Bastaria indicar os termos do  Inquérito 1.190/DF, com os indicadores de  provas obtidas na Operação Vostok, bem como as provas compartilhadas a partir da Operação Lama Asfáltica, acordos de colaboração premiada, quebra dos sigilos telefônico e bancário dos envolvidos,  para a mídia estar fazendo o seu papel e cumprindo com sua obrigação institucional. Nem isso.

A notícia inclusive é velha. Mas a decisão unânime do STJ é uma novidade que faz tudo pular  várias casinhas, mesmo porque o dia em que os bastidores desta história forem revelados, mostrando a movimentação de uma poderosa banca de advogados, políticos graduados com influência determinante no judiciário, inclusive na esfera ministerial dos governos Temer e Bolsonaro, se verá então que não foi uma decisão trivial.

Azamba teve, nesta decisão, seu buraco cavado alguns significativos metros. O STJ praticamente confirmou ( ressalte-se, por unanimidade) que realmente houve um esquema de corrupção envolvendo o pagamento de R$ 67 milhões em propina para Azamba e outros denunciados. Além disso, como contrapartida, os agentes públicos garantiram isenções fiscais e benefícios ao grupo empresarial JBS em valores que ultrapassam R$ 209 milhões. 

O governador sempre negou e insistiu na teses de que tudo foi uma conspiração, dizendo-se um homem honrado que cultiva os valores éticos na política. 

Quem conhece as profundezas da República de Maracaju sabe que este caso tão falado é apenas a ponta do iceberg. Outros estão girando nos MPs e estâncias judiciárias da vida. No final, se alguém se dispuser a fazer as contas verá que o buraco é tão profundo que talvez encontre terras japonesas.

O que impressiona é a frieza aparente com a qual essa turma segue adiante, agindo como se nada houvera, gastando horrores com propaganda, dando inclusive as mãos para receber apoio daqueles que se dizem puros, cristãos e imaculados. 

Mato Grosso do Sul é um bom lugar para se viver, uma terra de esperança, com potencial econômico fenomenal, mas está precisando de pessoas de espírito republicano que saibam diferenciar os recursos públicos dos privados. Só isso. O resto pode até vir por geração espontânea.