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Precisamos falar sobre Murilo

 


 Um mistério ronda a política sul-mato-grossense. Por onde anda Murilo Zauith, o vice-governador do Estado, figura chave do próximo processo sucessório estadual?

Ninguém sabe, ninguém tem uma informação confiável. Uns falam que ele, após contrair o corona vírus, foi internado num hospital em São Paulo e de lá nunca mais saiu.

 Amigos (nunca identificados) dizem que Murilo se recupera bem e logo estará de volta. Há quem diga que ele está plenamente curado e que está em isolamento em Miami, onde tem residência. Outros comentam que ele está curtindo a vida numa ilha paradisíaca na Grécia. 

Enfim, há versões para todos os gostos. Claro que Murilo, como funcionário público graduado, substituto natural do atual governador em caso de vacância, devia manter minimamente informado, por meio de boletins médicos regulares, toda a população de seu Estado. Afinal, pelo que se sabe, ele está na folha de pagamento do setor público e, por isso, deve satisfações àqueles que o elegeram. 

Não se trata de uma questão de foro íntimo. O Vice-governador não é qualquer pessoa. Se ele está com problemas de saúde, em qualquer sociedade de base republicana, deve ser dado o direito básico de que todos saibam os fatos concretos, pois, caso o contrário, ninguém poderá reclamar quando se aludir ao Mato Grosso do Sul como lugar atrasado, terra de coroné.

Quando se assume um cargo eletivo a vida pessoal cai para o segundo plano e prevalece o interesse geral. Pelo menos é isso que se pode deduzir da transpiração do texto constitucional.  Nada pode ficar em segredo. A transparência é uma regra de ouro do Estado Democrático de Direito. Só em lugares onde prevalece a mentalidade autoritária é que se aceita cordialmente os sussurros do escurinho do cinema.

A trajetória atual de Murilo começou quando ele assumiu a secretaria de infra-estrutura (Seinfra) em 2019. Como é importante lembrar,  sua escolha deu-se em função de ordem judicial que proibia o Governador Reinaldo Azambuja de se aproximar fisicamente do órgão responsável por obras no Estado, dado o escândalo que envolvia empreiteiras, contratos, propinas etc. etc. 

Murilo, assim, resguardava a integridade da secretaria e dava ao governador espaço para acompanhar a gestão de obras, mesmo à distância. O arranjo deu certo. Mas quando vieram as eleições municipais de 2020, Murilo agiu sorrateiramente no bastidor e passou a perna no PSDB e no seu próprio partido, o DEM. Em Dourados, sua base eleitoral e segundo colégio eleitoral mais importante do Estado, deu guarida ao candidato do PP, Alan Guedes, frustrando os planos do tucanato. Isso gerou crise monumental.

Por isso, Murilo nunca foi perdoado. A traição teve como paga sua exoneração da Seinfra. Além disso, uma formidável dança das cabeças de aliados do vice ganhou volume e densidade, gerando muita tensão no Governo. 

Murilo, então, fechou as portas de seu bolicho, desativando a própria vice-governadoria, renunciando à presidência do DEM e deixando na esteira um pote até aqui de mágoa. 

Logo em seguida, deu a saber a quem interessar possa que havia sido infectado com o Covid-19 e desapareceu. As últimas notícias sobre seu quadro de saúde registram-se no último mês de março, embora nada seja oficial, tudo, como se disse acima, por conta informações de “amigos próximos da família”. Esquisito. 

O quadro em torno desse sumiço complica-se ainda mais no tocante aos desdobramentos do quadro sucessório de 2122. Especula-se que a base governista prepara-se para enfrentar as próximas eleições com nomes que compõe um arco de alianças que garantiria não só espaços legislativos como a continuidade de influência nos executivos estadual e municipais. 

O PSDB criaria um ambiente amistoso para a manutenção do poder da variada sopinha de letras partidária, garantido vida longa inclusive à República de Maracaju. 

A pergunta que fica é como isso será feito sem falar sobre Murilo Zauith?  Se o governador Reinaldo, por exemplo, anunciar que renunciará ao cargo no próximo ano para disputar o senado, será que seu Vice manterá os arranjos atuais para garantir que o Governo siga sem transtornos?

A partir disso, cada um tem seu palpite. Há aqueles que afirmam que o Governador não será candidato a nada. Outros dizem que Murilo encerrou sua carreira política, pois com 71 anos nas costas não tem mais saúde nem disposição para governar o Estado, nem por breve período. E também há quem afirme que Zauith é um sujeito pragmático e que, por isso, é acomodável. 

Como todo político com vasta experiência parlamentar (ele já foi deputado) convergirá para se aninhar, sem grandes problemas. Mas quem confia?

O fato é que se discute muito o processo sucessório, simulando nomes dos mais diversos, mas ninguém fala sobre Murilo. Sem ele a equação não fecha. E tudo pode se transformar numa breve chuva de verão ou, mantendo a linha de citação Shaksperiana, muitos por aí estão fazendo muito barulho por nada. Quando Zauith der um sinal de vida, saberemos.

Dante Filho