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A questão Eduardo Riedel e o futuro do Governo

 




Dante Filho*

 

É provável que a opinião pública de Mato Grosso do Sul passe a ouvir cada vez mais o nome de Eduardo Riedel no dia a dia. Ele foi escolhido por Reinaldo Azambuja para ser o Governador de fato, tornando-se como se diz um “supersecretário”. Riedel enfeixa o poder nas mãos como nenhum outro secretário de estado na breve história de nosso Estado. 

É preciso reconhecer-lhe os atributos de bom gerentão. E com a vantagem de não ter a mão pesada nem aquela sanha perseguidora de seu chefe. Ele é um cara ligth, quase invisível, mas que sabe operar nossa complexa burocracia: foi ele quem demonstrou ao governador que um dos segredos da governabilidade é o manter o salário do funcionalismo mais do que em dia e que criar um sistema piramidal de conceder pagamentos vantajosos para a cúpula e esmagar os daqueles que estão na base ajuda a manter a coesão da equipe.

Ele manda, mas não se impõe. Ele controla, mas passa despercebido. Ele fala, mas não com a ênfase necessária para que as pessoas saibam de onde emanam as ordens, projetos e ações. Ele é o poder e o “não-poder”. Falta-lhe uma coisa: inimigos explícitos. Ninguém fala mal de Riedel. Esquisito, mas é assim. 

A idéia é prepará-lo para ser o candidato a governador do PSDB nas próximas eleições. Pode ser uma boa idéia. Riedel tem 50 anos, nasceu no Rio de Janeiro, formou-se biólogo, tornou-se  pecuarista e começou sua vida política como presidente do Sindicato Rural de Maracajú, destacando-se depois como comandante da poderosa Famasul (fazendo seus sucessores quase com mão de ferro). 

Ele é um grandalhão suave, sorriso agradável, discreto, meio tímido, bem articulado quando fala para os seus – empresários dos mais diversos setores, ou seja, o PIB estadual. 

Não é um truculento explícito, mas opera bem as cordinhas das pressões políticas contra adversários quando lhe convém. Fala corretamente, tem uma cabeça moderna até onde a vista alcança e é possível.

Pessoalmente, Riedel é um sujeito gostável, bem diferente da turma da República de Maracajú, apesar de fazer parte dela, com todos os seus ranços e prepotências. Tem algumas capivaras na justiça, mas nada que possa abalar suas estruturas. É bem de vida e tem uma boa cultura nas áreas administrativas e de gestão, pois estudou na Fundação Getúlio Vargas. 

Figuras políticas tradicionais de Mato Grosso do Sul afiançam que Riedel é um homem honesto, prudente e bom democrata. No limite, é um liberal à brasileira, ou seja, valoriza a iniciativa privada, mas não recusa as benesses do Estado. Digamos que, ideologicamente, é a direita soft.

A escolha de Riedel como pré-candidato não é uma má idéia, apesar de que muita gente diz que ele é o perfeito boi de piranha de Azambuja. Ele está sendo testado. Certamente, os gênios do marketing estão medindo as condições de temperatura e pressão para ver se ele tem alguma chance numa disputa dessa envergadura. 

Hipoteticamente, suas circunstâncias são boas. Ele deve ter uma baixa taxa de conhecimento e, conseqüentemente, uma rejeição ao rés do chão. Com isso, ele só precisa ter visibilidade, uma razoável base de apoio (com capilarização em todo o Estado) e um discurso que tenha conteúdo para o Capital e para o Trabalho. Bem embalado, com muita mídia e dinheiro, ele pode avançar.

O problema não é falar para empresários com facilidade, mas conversar com o povão é algo que o pré-candidato não sabe fazer. É provável que entre as camadas mais pobres ele pareça arrogante, um fazendeirão metido a besta As camadas profundas (a maioria dos eleitores) possuem esferas tectônicas complicadas para serem devidamente cascalhadas por gente como Riedel. 

No primeiro momento, contudo,  do ponto de visto político da construção de uma candidatura competitiva, Riedel precisa combinar com seu entorno qual a melhor forma de comunicação. De cara, o lançamento de seu nome foi feito pelo capitão-do-mato de Azambuja, o que é mau sinal. 

Teve-se a impressão de que tal gesto não foi para impulsionar e, sim, flambar. O lançamento de uma candidatura segue um ritual que não pode ser feito por um preposto que flerta o tempo todo com a canalhice. Pegou mal para Dudu. 

Neste aspecto, vejo que o pré-candidato terá que lidar com personagens que fingem apoiá-lo, mas acompanham os acontecimentos na busca infrene por uma janela de oportunidade para trair. 

Riedel tem moedas de troca políticas muito poderosas: nomeações, exonerações, recursos públicos para obras, manejo do caixa, pagamento de salários e benefícios, influência nos Poderes, apoio do chefão e de sua família, enfim, coisas que ensejam reverência e também muita ciumeira. 

Riedel sabe que o capitão-do-mato não gosta de dividir poder. Sabe também que Azamba é refém daquele que sabe segredos demais para ficar solto por aí. Sabe que a máquina de comunicação do governo pode trabalhar contra ele por debaixo dos panos. 

Enquanto isso, Azambuja assiste a tudo, deixando Riedel, por enquanto, no stand by, olhando para seus problemas judiciais, pensando no que fazer com seu vice, Murilo Zauith, desenhando cenários para uma provável candidatura ( Senado, Câmara Federal ou até mesmo a Assembléia Legislativa, caso o quadro seja muito sombrio).

Da solução de todas estas equações dependerá o futuro de Eduardo Riedel e do PSDB, por tabela. Riedel seria um continuísmo de Azambuja sem o lado podre que hoje imanta parcela do tucanato. Claro que sua candidatura enfrentará o Bolsonarismo raivoso que deverá somar força com a Ministra Tereza Cristina, que divide parte da base de apoio (o agronegócio) de Riedel, podendo enfraquecê-lo. 

Há outros fatores que poderão ser comentados mais adiante. Mas Reidel só será um candidato viável se conseguir formatar consensos que vão além do pequeno mundo da República de Maracaju. Conseguirá? Não sei. Ele tem pelo menos 10 meses para mostrar que sim ou que não.

 Vamos acompanhar.