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Alexsandro Nogueira: O deserto da realidade


Foi John Lennon que inaugurou o personagem militante político preocupado com o bem-estar da sociedade e os rumos da civilização. Depois disso, a praga das celebridades engajadas na política se alastrou e nunca mais parou de produzir bobagens.

De lá pra cá, já vimos de tudo: Vanessa Redgrave gritando contra a falta de apoio do governo americano às causas Palestinas; Darryl Hannah ser detida na porta da Casa Branca aos berros contra Bush e o trio Sean Penn, Bono Vox e Maradona defendendo o regime chavista na Venezuela.

No Brasil, a situação beira o ridículo. Por aqui já assistimos de tudo. De Cláudia Raia como garota propaganda de Collor de Mello, passando por Wagner Moura defendendo os desgovernos da esquerda e, para chancelar toda essa merdança, temos agora Alexandre Frota como deputado federal encarnado como o Antonio Gramsci da direita burra.

Falo de pessoas semi-alfabetizadas que, não contentes com o sucesso ou o insucesso na carreira artística, resolveram consolar o ego com assuntos direcionados ao cérebro adulto.

Mas, o meu problema com o engajamento político das celebridades não está na megalomania delas, aliás, legítima. 

Está na atenção igualmente infantil que a imprensa concede mimos aos caprichos dessas criaturas.

Será que, quando entrevistam Wagner Moura divagando sobre ideias de Guilherme Boulos, nenhum jornalista questiona seriamente o personagem do Capitão Nascimento como pode um ator com capacidade criativa tão vasta ter, ao mesmo tempo, uma consciência política tão mirrada?

Uma interpretação bondosa dessas entrevistas diria que a galera do meio artístico não está pendurada na Lei Rouanet e suas preferências políticas são construídas com base na justiça social  e na tentativa de gerar igualdade de oportunidades para todos.

Mas Paulo Francis me consola quando definiu que o grande ator não pode ser muito inteligente. Ele tem que ser burrinho. Lacrou!

Lá atrás, o poeta lituano Czeslaw Milosz, na sua obra seminal “Mente Cativa” explicou bem esse tipo de comportamento quando identificou certa afinidade eletiva de poetas e músicos simpatizantes com regimes nazistas e comunistas.

Era a década de 1940 e a atitude seria o prenúncio do que veríamos com Lennon nos anos 60, e, posteriormente, com seus sucessores em atitudes bestiais.

Para Milosz, a manifestação dos artistas em atos políticos surge quando a solidão e o medo do esquecimento coletivo tomam conta da ribalta e só resta as lembranças das penumbras das  coxias.

Infeliz da sociedade que tem nas celebridades do meio artístico e cultural um modelo de pensamento para a política com a estranha ambição de contribuir para melhorar o mundo.

 A ideia de um mundo melhor é uma utopia que já criou grandes genocidas.

Alexsandro Nogueira é jornalista e escritor