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A arte de calar: Guia de sobrevivência para campanhas eleitorais



Em 1771, na França, o abade Joseph Antoine Toussaint Dinouart, escreveu um pequeno livreto de pouco mais de 50 páginas intitulado A Arte de Calar. 

Em 2001, a editora Martins Fontes fez chegar ao público brasileiro, em edição de bolso, essa pequena obra-prima, pouco conhecida e lida. Mesmo assim, o texto pode ser encontrado nas melhores livrarias e vale a pena ser lido.

Mais: vale a pena carregá-lo por onde for porque suas pílulas de conhecimento podem ser lidas em qualquer lugar e a qualquer tempo. Uma recomendação: antes de abrir o facebook folheie algumas dessas páginas repletas de sabedoria e de bom senso. Faço isso todos os dias. 

Agora, abaixo, dou de graça alguns dos principais ensinamentos do Abade Dinouart:

Princípios necessários para calar

1- Só se deve deixar de calar quando se tem algo a dizer que valha mais do que o silêncio.

2- Há um tempo de calar, assim como há um tempo de falar.

3- O tempo de calar deve sempre vir em primeiro lugar; e nunca se pode bem falar quando não se aprendeu antes a calar.

4- Não há menos fraqueza ou imprudência em calar, quando se é obrigado a falar, do que leviandade e indiscrição em falar, quando se deve calar. 

5- É certo que, considerando as coisas em geral, há menos risco em calar do que em falar.

6- O homem nunca é tão dono de si mesmo quanto no silêncio: fora dele, parece derramar-se, por assim dizer, para fora de si e dissipar-se pelo discurso; de modo que ele pertence menos a si mesmo do que aos outros.

Diferentes espécies de silêncio

Existe um silêncio prudente e um silêncio artificioso.

Um silêncio complacente e um silêncio zombador. 

Um silêncio espirituoso e um silêncio estúpido.

Um silêncio de aprovação e um silêncio de desprezo. 

Um silêncio político. 

Um silêncio de humor e de capricho. 

1- O silêncio é prudente quando se sabe calar oportunamente, conforme o tempo e o lugar em que se está no mundo e conforme a consideração que se deve ter para com pessoas com se é obrigado a tratar e a viver. 

2- O silêncio é artificioso, quando só calamos para surpreender, seja desconcertando os que nos declaram seus sentimentos, sem lhes dar a conhecer os nossos, seja tirando proveito do que ouvimos e observamos, só querendo responder por modos enganadores.

3- O silencio complacente é uma aplicação não somente em escutar, sem contradizer, aqueles a quem desejamos agradar, mas ainda em lhe mostrar o prazer que temos com sua conversa ou com sua conduta; de maneira que os olhares, os gestos, tudo supra a falta da palavra, para aplaudi-los.

4- O silêncio zombador é uma reserva maligna e afetada, a não ser interrompida, sobre as coisas desprovidas de sentido ou inconsideradas, as bobagens que ouvimos falar ou que vemos fazer, para gozar do prazer secreto que têm aqueles que se deixam enganar ao imaginar que os aprovamos e os admiramos.

5- Há um silencio espirituoso quando se percebe no rosto de uma pessoa que não diz nada um certo ar aberto, agradável, animado e capaz de dar a entender, sem o recurso à palavra, os sentimentos que quer dar a conhecer.

6- Há, ao contrário, um silêncio estúpido, com a língua imóvel e o espírito insensível, o homem parece inteiramente numa profunda taciturnidade que nada significa. 

7- O silêncio de aprovação consiste no consentimento que damos ao que vemos e ao que ouvimos, seja contentando-nos em lhe dar uma atenção favorável, que indica a importância que lhe atribuímos, seja testemunhando, por alguns sinais exteriores, que o julgamos razoável e o aprovamos.

8- É um silêncio de desprezo não nos dignarmos a responder àqueles que nos falam ou que esperam que nos declaremos a respeito do que nos falam e olhar com frieza e arrogância tudo o que vem deles. 

9- O silêncio de humor é o de um homem cujas paixões só se animam seguindo a disposição ou a agitação de ânimo que o domina e de que dependem a situação de seu espírito e o fundamento de seus sentidos; que considera bem ou mal aquilo que ouve, segundo a física desempenhe bem ou mal suas funções, que só abre a boca para fazer piadas ou para dizer coisas desagradáveis ou inoportunas.

10- O silencio político é aquele de um homem prudente, que se poupa, que se conduz com circunspecção, que nem sempre se abre, que não diz tudo o que pensa, quem nem sempre explica sua conduta e seus desígnios; que, sem trair os direitos da verdade, nem sempre responde claramente, para não se deixar revelar.