Pages

Dante Filho: Eleições imaginárias


Acompanho com curiosidade as movimentações partidárias dos últimos dias. Ouço aqui e ali o burburinho em torno das chances de A aliar-se com B ou C juntar-se com D para fazer a famosa sopa de letrinhas que, no fim, representa o que são realmente os partidos políticos brasileiros.

Difícil deixar de se divertir sobre as especulações em torno das tratativas de quem estará no palanque de quem na próxima rodada. Olhando sob a perspectiva dos personagens envolvidos, tudo é ilógico, seguindo um padrão de teratologia só imaginada numa tela de Bosch.

Certamente, nem se discute mais questões como afinidades ideológicas, relações programáticas, padrões de moralidade pública, até porque o sistema político exige nessa hora um pragmatismo que se resume à soma de tempo de TV e a capacidade de formar caixa com recursos do fundo partidário & outros.

Quem tem noção mínima sobre como funciona a realidade eleitoral brasileira deve imaginar que a legislação que está valendo hoje estimula a montagem de um poderoso caixa 2 advindo daqueles segmentos que lidam com dinheiro vivo no transcurso da campanha.

Por mais que sejamos otimistas, não se pode descartar que a máquina fiscalizatória da justiça eleitoral, do ministério público e das polícias não tem capilaridade suficiente para coibir abusos da economia submersa que sustenta o crime organizado.

Não é preciso ir longe para entender de onde virá o grosso do dinheiro, mesmo que muita gente tenha se escandalizado com o montante do dinheiro oficial que dará sustentação às candidaturas dos diversos partidos que estarão caçando votos nessas eleições.

Já se sabe que as cúpulas partidárias darão preferência àqueles que já têm mandato. E como ficam os outros? Como esses desvalidos sustentarão o básico das campanhas?

A resposta virá conforme o andar da carruagem. 

O mais curioso, no entanto, é o fato de os partidos estarem vivendo intensas movimentações internas, turbinando o mundo das fofocas e das imaginações delirantes, não tendo o cuidado de demonstrar preocupação com o elemento essencial de todo o processo: o eleitor. Esse parece que não existe. Ou melhor: são números de uma equação incerta, mesmo que tenha gente fazendo cálculos sobre a quantidade de votos que possivelmente fulano e sicrano terão.

Infelizmente, pesquisas não conseguem mais identificar a vontade geral de quem está perdido no mar das incertezas, nutrindo muita raiva com a situação do País.

Mas existem aqueles que acreditam que tem o poder de mudar essa realidade numa reunião fechada de gabinete. Quanta prepotência!

Só uma perguntinha: e se as contas estiverem todas erradas?