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O triunfo da fofoca


Todo mundo está sabendo: vivemos nos tempos de fake news, dos boatos, dos tititis nas redes sociais, das notinhas cifradas na mídia- fenômenos que vieram para ficar desde que o mundo é o mundo.

Vivemos não somente a famosa Era da Incerteza, mas também a da Insegurança Pessoal, com a perda gradativa da sensação de privacidade. 

Bastam alguns segundos de distração e lá estamos nós postando bobagens, mandando mensagens pelo zap zap para pessoas erradas, mostrando nossas intimidades e nossos segredos, revelando nossas raivas, hipocrisias e intolerâncias. 

A mente é incerta e o dedo é bobo. Um dia, sem querer, replicamos mensagens sem saber do que se trata, outras, ficamos sabemos que um membro do governo postou por engano, num grupo oficial, sua verdade fálica para a apreciação Urbi et Orbi

Assim, às vezes somos printados com toda a inocência e nos tornamos vítimas dos inescrupulosos profissionais da fofoca. 

O assunto é sério. Mas faz parte da humanidade. E estimula a curiosidade dos especialistas. 

Abaixo, um trecho de um ensaio publicado na Revista Calibán do mês de maio, da psicanalista argentina Laura Palácios, que separei aos leitores:


“Filha da leviandade e do invento, a fofoca é a parente plebeia do segredo. O segredo exibe dignidade, prestígio. Está localizado em uma mansão de escadas atapetadas. Fechadura, portas e janelas à prova do indiscreto. Conhece intimamente a circunspeção. Anda de braços dados com a sobriedade e a história. Está ligado diretamente ao silêncio e a ética. Considera-se herdeiro da verdade e janta na casa do poder quase todas as noites. (...) Porque o segredo não é bobo. Pressente que nas sombras e sob o mandato de seu capricho primordial, o parente plebeu desfruta. E o prazer da fofoca é corroer a dignidade do segredo. Falar por suas costas, desonrá-lo, revisar seus arquivos, ler seus papéis íntimos. Fabricar diminutas chaves mestras para violar (valha a redundância) de seu secretaire, abrir a caixa forte e arrasar suas dispensas. E acima de tudo, divulgar, divulgar...espalhar o tesouro.”

Revista Calibán - (www.facebook.com/RevistaLatinoamericanadepsicoanalisis)