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Loucura! Loucura! Superada a fase econômica, caminhoneiros agora querem derrubar o governo


Uma crise como a atual produz monstros todas as horas. Superada a fase da reivindicação econômica (atendida mais do que integralmente), parcela dos caminhoneiros decidiu agora engrossar a pauta política. 

Existem três palavras de ordens distintas: a volta do regime militar, a renúncia de Temer e “Lula fora da prisão”.

Sim, concordo, tudo é meio surrealista, mas quem ousará segurar a ala psiquiátrica desses movimentos nesse momento tão difuso da realidade brasileira, em que demagogos, populistas e oportunistas fazem coro junto com uma mídia maluca que pratica um jornalismo podre, acreditando que noticiar a exceção revela a regra geral?

Tenho a minha tese: segurar por uns dias o abastecimento de combustível nos postos criou o famoso efeito manada, que terminou realizando a profecia de que ia acabar a gasolina. Deu certo. A turminha das redação vibrou com essa desgraça.

A imprensa foi – talvez ingenuamente - muito eficiente em criar esse ambiente nervoso, irrealista e esquizofrênico. 

Depois percebeu que isso era uma esparrela, mas aí já era tarde: o fato estava dando audiência, sem contar que esse tipo de jornalismo de entrevistar revoltadinhos e criar um climão com gente histérica é barato e não exige inteligência de repórteres iniciantes na profissão.

É complicado mostrar a complexidade da vida fora da TV. Numa visada geral, é preciso dizer que a vida seguiu normal na maioria das cidades. Norte e nordeste a vida seguiu normal. O efeito “dramático da crise” foi mitigado. No sul, sudeste e centro oeste, a coisa foi mais complicada porque a base do consumo é maior. Mas quem saber disso?

Mas os consumidores ficaram assustados e correram aos postos como medida de prevenção. Ninguém foi entrevistado alertando para o erro dessa corrida, visto que acelerava o desabastecimento e cria um mercado negro dos produtos. A mídia parece que estava a-do-ran-do tudo isso, sem se dar conta que era parte significativa no fortalecimento da “crise”.

Fiquei com vergonha de minha profissão. A cobertura não tinha planejamento (a reportagem noticiava desabastecimento em supermercado com imagens ao fundo de gôndola abarrotadas), não dava respostas sobre as verdadeiras motivações da paralisação dos caminhoneiros e nem investigou o fato de que o sindicato mais poderoso do Brasil na atualidade é o “Sindicato do WhatsApp”.

O que salvou o jornalista foram os comentaristas. Eles conseguiram mostrar o que, de fato, estava acontecendo: os homens do volante eram 30% do tamanho da frota; o grosso dos “caminhoneiros” era formado por motoristas assalariados de algumas dezenas de empresas. A maior delas tinha uma frota de 15 mil caminhões (ou seja, um simples telefonema, o patrão mandava parar o País).

Enfim, a melhor forma de produzir malandragens é produzindo uma grande crise. Isso existe desde quando inventaram a civilização. Com a merdança feita, o grave mesmo vem a partir de agora: os efeitos residuais de todos os erros, que terminarão resultando num círculo de equívocos autofágicos, turbinados por todo tipo de idiotice mostrado ao vivo pelas TVs.