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Com candidatura inesperada, eleição da Famasul mexe com ambiente político

Terezinha Cândido, candidata à presidência da FAMASUL


O atual presidente da Famasul  Maurício Koji Saito estava tranqüilo quando imaginava que sua reeleição este ano seria um passeio. Não havia nada que atrapalhasse seus planos. 

Mesmo tendo uma gestão questionada por inação, erros e alguns casos de “desvio de função”, ele estava tranqüilo porque era candidato único, favorecido por um sistema eleitoral que garante a permanência no poder. 

Como se sabe, a Famasul é uma instituição fundamental para a base política do atual governador e, em sendo assim, perder uma eleição aí significa ficar sem uma perna no decorrer de uma campanha que, por si só, será extremamente complicada. 

O que a atual diretoria da entidade não imaginava é que de dentro da própria casa surgiria uma candidatura com outra visão de mundo e outros valores que devem nortear os caminhos de uma entidade cuja representação influencia de maneira determinante a economia e toda a sociedade sul-mato-grossense: Terezinha Cândido, uma mulher determinada, que gosta de falar o que pensa e que acredita que se o País e  mundo estão mudando a Famasul tem que acompanhar essas transformações. 

De cara, vivenciando o dia a dia da entidade, ela percebeu que o sistema de escolha dos dirigentes é anacrônico, um sistema de eleição indireta que remete aos piores tempos do coronelismo. 

Na Famasul, o associado não escolhe diretamente a diretoria. São 69 sindicatos rurais que indicam representantes para formar um colégio eleitoral exclusivíssimo que termina elegendo o presidente juntamente com sua diretoria. 

Sempre funcionou assim. Em vários setores. Esse sistema pereniza vícios e torna as entidades politicamente atreladas aos governos de plantão. Pior: garante manipulação de verbas e cargos, privilégios e até mesmo, em casos extremos, corrupção. 

Existem casos em que o presidente da entidade foi reeleito mesmo tendo falecido.

Terezinha decidiu mexer com essa ferida – e outras. Viu-se a partir disso vivendo um torvelinho de pressões inimagináveis, tendo que engolir sapos, vendo sindicatos rurais transformando-se em balcão de negócios, presenciando um jogo sórdido que ultrapassa as regras da civilidade. 

Com isso, tudo indica que as eleições da Famasul serão judicializadas, visto que o presidente Maurício Saito age como se em campanha valesse tudo e que só não vale perder o poder. 

Como a imprensa de um modo geral fechou as portas para a cobertura das eleições da entidade, pois, segundo denúncias, o governo não tem admitido que notícias sobre a campanha possam circular livremente, Terezinha Cândido está sendo submetida a um jejum forçado sobre a divulgação de suas idéias. 

Sites tem tirado notícias do ar, jornais tem se negado divulgar matérias a respeito da disputa, enfim, a eleição de uma das maiores entidades do Estado está no limbo.

O fechamento do processo eleitoral da Famasul encerra-se, supostamente, no dia 16 de junho, mas até a forma de apuração de votos e sua divulgação é uma caixa preta. 

Muitos sindicatos do interior estão votando pelo sistema de envelope fechado. Esses votos são remetidos para a Capital. Aqui chegando, não se tem certeza se são ou não invioláveis. 

O fato é que o calendário eleitoral é confuso e a margem de manipulação é imensa. Saíto conta com isso para permanecer à frente da entidade, mesmo sofrendo críticas de que só faz aquilo que lhe é mandado pelo oficialismo reinante. 

Temas caros aos produtores como redução de ICMS do diesel, cobrança retroativa do Funrural – contribuição destinada ao custeio da Previdência Social rural -, mau uso do Fundersul - Fundo de Desenvolvimento do Sistema Rodoviário de Mato Grosso do Sul-, cuja arrecadação líquida estimada até o final de 2018 é de aproximadamente R$ 658 milhões – e ausência de posicionamento sobre a questão de terras indígenas, tudo isso tem incomodado sindicatos e produtores, mas tem mantido Saito em posição de estátua de bronze. 

Existem assuntos menos prosaicos e estranhos à classe. A Famasul tem sob seus auspícios o  Senar/MS,  entidade de direito privado, vinculada à Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil – CNA-, que tem orçamento de mais de R$ 100 milhões (executado em 2017), composto em sua maioria por contribuições, cuja aplicação é obscura . 

A proposta orçamentária para este ano, conforme o portal da transparência do Senar/MS,  é de R$ 57, 7 milhões, valor próximo ao aprovado em outubro de 2016 para execução em 2017 (R$ 53.3 milhões), não fossem outros R$ 49 milhões  aprovados a título de “reformulação orçamentária”, em agosto daquele ano, totalizando mais de R$ 100 milhões.

Em relação a esse tema, o que tem chamado a atenção de muitos produtores – e causado certa perplexidade – foram as nomeação de dois representantes das comunidade indígena no Senar/MS conhecidos pela militância em invasão de terras. Comentam que os salários são de nababos.

O primeiro deles – conhecido por Joãozinho da Silva – foi demitido tempos atrás por improbidade na Funai, mas mantém-se aguerrido no estímulo às invasões de terras. E a outra é sua filha, Tainara Terena, personagem que se tornou conhecida pela sua intocabilidade,  pois mantém relações íntimas com um figurão da Famasul. 

Enfim, a eleição da Famasul tem ingredientes de sobra para mobilizar atenções. Mas o manto do silêncio permanece, sob os olhares perplexos e indiferentes da chamada classe produtora.