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Dante Filho: O Brasil de Lula


Abril é o mais cruel dos meses. Mas a história da prisão de Lula começou há muito tempo. 

Na cadeia de eventos talvez o momento originário, que se desdobrou nos fatos deprimentes a que assistimos nesta sexta-feira, deu-se quando Lula entrou em processo de simbiose com o PT e adotou o populismo como postura comportamental para galvanizar as grandes massas. 

Uma das bases dessa política popular de inserção nas camadas excluídas da sociedade era a adoção de uma diferenciação elementar de postura diante das iniquidades sociais: sensibilidade com a pobreza, programas de base reformista (à esquerda) para que o Estado resolvesse a questão das desigualdades e – mais importante do ponto de vista simbólico – ética na política. 

O PT chegou ao poder carregando o sentido de esperança para as massas e para aqueles que sonhavam numa alteração de paradigmas para provocar rupturas com os principais vícios históricos da formação nacional: acabar com privilégios das oligarquias, extirpar o patrimonialismo, detonar a influência do compadrio nas altas esferas do poder e, finalmente, combater com vigor uma corrupção arraigada que subtraia parte da renda nacional para privilegiar os grupos habitantes do topo da cadeia alimentar. 

O esforço a que se propunham Lula e o PT era louvável, mesmo não sendo exequível, o que fortalecia a desconfiança de que tudo era falso e demagógico. 

Mesmo assim, o povo se encantou e os governos Lula 1-2 e Dilma 1 foram um sucesso. 

Lateralmente, no decorrer desse processo, aconteceu um fato que passou praticamente despercebido – e que hoje se tornou fundamental para compreender o que está se passando ( sem embargo das crises econômica e política). 

Sub-repticiamente, o Judiciário renovou-se e se emponderou. Nada mais natural que isso acontecesse ao longo do tempo porque foi exatamente esse caldo de cultura que o PT propagou na sua longa jornada na conquista do poder, o que terminou abrindo espaço para uma justiça sensível aos reclamos políticos (hoje tão criticada pelos garantistas), com certos pendores populistas. 

Nesse campo, o PT se revolta contra o monstro que criou, e reivindica uma volta aos tempos dos privilégios conservadores.


O Partido queria uma nova Justiça, ajustada aos conceitos propalados de poder. Só esqueceu de combinar com promotores e juízes que tudo era apenas marketing, uma brincadeirinha para enganar o povo.

Por isso, nesse momento, não cabe o partido e Lula reclamarem de nada  simplesmente porque sua agenda originária está sendo cumprida. 

Ou seja, o combate aos grandes males que infelicitam o País, que os Moros, Barrosos e Cármens Lúcias etc, propagam todos os dias. 

O Judiciário cumpre o roteiro estabelecido com a ascensão da “classe trabalhadora ao poder”. 

O PT se esqueceu disso. E agora não adianta reclamar, quebrar, queimar e  propor “guerra civil”.