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Angela Sollberger: Olhar sobre Lula


“Como se renovar sem primeiro virar cinza?" (Nietzsche)

Os que trabalham com a mente, seus afetos, emoções e relações sabem que a depressão não é apenas uma doença, mas um momento privilegiado que pode ter como conseqüência uma boa mudança.

O país está de luto ou deveria estar, pois só assim teremos chance de renovação, como disse o filósofo, e reafirmou Freud inúmeras vezes. Os últimos dias foram o ápice de uma tristeza que se aproximava sorrateiramente.

Lendo um texto de meu amigo Octavio Caruso (www.facebook.com/octavio.caruso1?fref=mentions) resolvi escrever, também instigada por outro caro amigo, sobre minhas preocupações com Lula e sua saúde mental.

Presenciamos em um só dia o circo armado por ele no Sindicato dos Metalúrgicos em São Bernardo dos Campos: incitando a violência; formando com corpos humanos um bunker para seu show e sua efêmera proteção; atacando a todos e a tudo; colocando seu próprio partido em risco; desobedecendo por mais de 24 horas uma decisão judicial, contra um sistema jurídico que ele mesmo ajudou a empoderar; seus gritos e gestual violento em momento que deveria ser de consternação durante uma suposta "missa" em intenção a sua falecida esposa; o tom e conteúdo de um longo discurso de vitimização: "provaria sua inocência", quando já tinha sido, investigado, julgado e condenado por duas instâncias jurídicas e condenado por mais de 12 anos, no primeiro dos 6 processos em andamento, cuja condenação foi legitimada por unanimidade pelo STJ e pelo STF; seu sorriso desafiador e irônico, virando-se e olhando para as câmeras quando da primeira vez que "tentou" sair da sede do sindicato; e, por fim, o semblante assustado ao sair do sindicato para se entregar a PF, avisado por seus advogados que sua situação complicava-se cada vez mais.

Da indignação que estava sentindo até aquele momento, irmanada com a maioria dos brasileiros, comecei a sentir certo incômodo que foi se traduzindo em preocupação humana. Lula estava doente, em surto psicótico.

Seu comportamento há algum tempo vinha se apresentado sob a forma daquilo que costumamos chamar de maníaca e que em psicopatologia definimos como uma defesa estruturada contra a depressão. 

Lula não estava triste como muitos que confiaram nele e em sua promessa de esperança e até como os, como eu, nunca acreditaram ou aceitaram sua forma de governar e lidar com o bem público. Lula estava exultante, em elação!

Quando em situações que o sentimento adequado de tristeza (até pela injustiça que ele julga estar sendo submetido) é substituído pela mania (excitação extremada) o perigo é iminente se logo não se impor um tratamento. No cárcere, privado de liberdade, holofotes e atenção, personalidades como a de Lula correm um grande risco de suicídio. 
Lula é um líder carismático e homem inteligente de faro político aguçado, nesse sentido, admirável!

Espero que estejam dando a esse homem a devida atenção médica e psicológica. 

Não estou dizendo que sou contra sua prisão. Em certo momento até fui, pois tenho posição diversa sobre a pena aos crimes de colarinho branco, mas o escárnio foi tão grande por parte de Lula e parte importante de seu partido que mudei de ideia, um tempo na prisão em cárcere é merecido por respeito a tantos brasileiros.

Estou dizendo que Lula está muito doente e sua defesa radical contra o desmoronamento psíquico (lembremos que ele é um resiliente, um sobrevivente que subiu ao mais alto posto de uma Nação) pode ser o ato extremo de tirar a própria vida "para se proteger do aniquilamento psíquico" e se vingar de todos que ousaram pensar diferente dele. Vivemos tempos difíceis.

*Psicóloga e psicanalista