A greve dos juízes é mais um sintoma de que o Judiciário brasileiro está perdido em sua condução. O outro, tão grave quanto, é o cambiante jeito de julgar do STF, onde cada Ministro arvora-se em Tribunal composto por si mesmo, dando de ombros para a jurisprudência do Colegiado, de modo que a “simples” sorte (ou azar) na distribuição de um recurso pode significar o sacrifício da liberdade.
Ao cabo de quase quarenta anos de lida forense, não me recordo de outra quadra como esta, caracterizada por essas mazelas que revelam um profundo descompromisso da Magistratura com suas funções éticas e constitucionais.
Logo, não era de se esperar que o Judiciário muito tempo resistisse a participar desse por assim dizer voluptuoso convescote, para não dizer outra coisa, mas é lamentável que isso tenha ocorrido, que os discípulos e mandatários de Têmis, a deusa da justiça, da lei e da ordem, protetora dos oprimidos, tenham perdido sua referência, fechando os olhos às suas virtudes e qualidades e abrindo-se às toscas pulsões mundanas.
Obviamente, registro seja feito, sob o manto dos poderes aqui criticados, muitos são os que procedem dignamente com as funções de seus cargos, de modo que a opinião negativa por mim expendida a eles não toca. Mesmo assim, o Poder que exercem resta diminuído, porque um Poder que não cumpre suas atribuições constitucionais ou cujos responsáveis fazem greve não é mais um Poder, nem força mais possui, deslegitimado que está por sua própria confessada fraqueza: Poder que tem poder obtém o que deseja naturalmente, porque sempre deve e só pode desejar o que a lei a ele concede. Oh tempore, oh mores!
*Advogado