Esses três poemas compõe o livro que estou dando por encerrado. O título (ainda provisório) será "Cabeça de Chapéu" e reunirá um trabalho que estou desenvolvendo há cerca de três anos. Não sei ainda se será satisfatório. O poema tem sua perfídia: ele esconde sua natureza estética na ilusão de nossa vaidade. Mesmo assim, chega um momento da vida que temos que correr todos os riscos. Afinal, o que temos a perder?
Pausa IV
No futuro,
Continuaremos a falar do futuro
O tempo circulará ao redor
de nossas vidas
Emanando o mesmo tema
E tudo permanecerá igual:
Tudo se repetirá
Até nas infinitas coisas;
Em si mesmas
Em círculos constritos
Sobre as mesmas tragédias
De toda a história que foi e será.
Menina na praia
( sobre uma tela de Ana Ruas)
Na margem,
A menina esvoaça seu vestido
E transforma o azul imenso
No puro vestíbulo do ar.
Na paisagem,
O olor enevoa-se na tênue brisa
Dos passos de quem se lança
Pensando que o amor não tem mistério nem mar.
Suavemente,
As ondas quebram-se na areia
Nos desdobramentos da cor.
E assim chusmaça o vento inexistente
(De sal e água)
Dando vida à tela branca
Na planura da beleza e da dor.
O dia do homem Drummondiano
- Sou o homem que recebe cartas
Leva o cachorro pra passear
Olha pela janela
Anda pelas ruas
Atravessa na contramão
Vai ao bar
Segue em frente
- Eu sou o homem que olha os pássaros
Que levanta cedo
Que amarra os sapatos
Olha o dia
Dorme à noite
Depois – só depois –
Bebe uísque e lê poemas de Petrarca.