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Hederson Fritz :Tempos Sombrios


Vivemos tempos nebulosos. Depois de líderes pentecostais chutarem imagens de santos católicos, a moda agora é agredir adeptos das religiões de matriz africana. A intolerância travestida de virtude religiosa é a aposta de grupos radicais para inibir manifestações a outras crenças.

A coisa funciona assim: se você é católico, evangélico, muçulmano ou judeu, tudo bem. Mas se a pessoa tem simpatia pelos templos de umbanda ou candomblé, corre o risco de ser agredida por hordas de fanáticos.

Se o papel da história é estabelecer uma ligação com o presente, para que os erros do passado não se repitam no futuro, vale lembrar que, coisa semelhante aconteceu na França a partir do século XVI, quando reis católicos reprimiram protestantes na noite que ficou conhecida como o Massacre de São Bartolomeu.

Posteriormente, esse tipo de atitude ganhou força em papéis semelhantes com cristãos condenando grupos de judeus à fogueira porque se recusaram a aderir à casta de cristãos novos.

No Brasil, o tom bélico de algumas denominações, criou um clima propício à intolerância religiosa. A situação ganha cada vez mais contorno de guerra - alimentada pelo tom exaltado de alguns grupos pentecostais - preocupando lideranças de diferentes matizes.

Infelizmente, a figura evangélica que está exposta ao imaginário coletivo do brasileiro é a face mais grotesca, mais triste, e que não representa a índole da maioria das denominações de origem protestante.

É preocupante ter uma liderança expressiva desenvolvendo um discurso de nós contra eles, um verdadeiro contrassenso para o cristianismo, já que não se tolera esse tipo de atitude nem de uma torcida organizada de futebol, que dirá de uma figura tida como um guia espiritual. 

Quando encontramos um pastor com esse discurso, cria-se um ambiente propício para que gente doente, ignorante, mal esclarecida e mal resolvida dê vazão a seus impulsos de violência, de rejeição ao próximo, aos seus ímpetos de prepotência, à sua ambição e sede de poder e à sua personalidade opressiva.

O discurso de confronto, no lugar da reconciliação, cria um ambiente de animosidade, onde as manifestações violentas tendem a ser legitimadas, ainda que isso seja inconcebível.

É inadmissível também a forma como alguns grupos sociais se movimentam para ridicularizar cristãos, reproduzindo de forma ofensiva, pejorativa e caricata a imagem de Jesus Cristo. O entendimento entre as religiões se constrói com diálogos e não com confusão 

Não queremos esse tipo de pensamento de forma hegemônica no Brasil. É perigoso. Para termos um País que possa ser considerado legitimamente laico, democrático e republicano,
temos que aplicar a lei com vigor a todo ato criminoso, de qualquer natureza e praticado por quem quer que seja.

É crucial que exista um estado de alerta na sociedade que se levante contra todo e qualquer tipo de preconceito ou grupo que pretenda um controle hegemônico da conduta religiosa da sociedade. O Brasil não precisa de guardiões da fé e da moral, precisamos de defensores da cidadania.

*Vereador pelo PSD
e-mail: vereadorfritz@gmail.com