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Crítica, liberdade de imprensa e direito de resposta


Vou começar com a pergunta clássica: se você é um político, empresário, juiz, secretário de Estado, governador etc., e recebe uma crítica pública de um jornalista, qual atitude tomar?  

Tenho minhas respostas. Primeiro, verificar se o texto em questão é aceitável dentro do contexto pelo qual o assunto foi abordado. Se for coisa de baixo nível, esqueça. 

Se tiver relevância histórica e poder de convencimento da sociedade, preocupe-se.

Segundo, leia o texto com atenção. Identifique se as informações são ou não precisas, ideológicas, oportunistas ou ressentidas. Terceiro, se há calúnia, mentira ou ofensa que lhe pode causar dano pessoal (por exemplo, a perda de um emprego ou de uma oportunidade material). 

Notem: não falei em dano moral muito menos em difamação criminosa (mesmo que essas figuras plásticas estejam previstas em lei) porque se o material jornalístico é crítico (ao contrário de um texto elogioso) ele sempre trará aborrecimentos aos personagens criticados e nunca agradará àqueles que foram citados. 

Respire fundo. Mantenha a linha de raciocínio e avalie se vale a pena responder, abrir um debate, um processo judicial ou simplesmente ignorar. Muitas vezes a pior forma de crítica é a indiferença.

Numa democracia (em que o bom senso deve prevalecer, apesar de que nem sempre isso ocorre) o atingido pelo hipotético texto pode se movimentar em várias direções: ligar para o jornalista e explicar seu ponto de vista, tentando requalificar as informações. 

Pode-se também solicitar extra-judicialmente um direito de resposta. Pode-se entrar com uma ação judicial. Pode-se mandar a polícia (de preferência o Garras) ameaçar o cara, apontando uma seringa pra ele. Pode-se pedir para o patrão do cara (caso ele tenha) tirar seu emprego para mostrar, pedagogicamente, para outros jornalistas, o que acontecerá para quem seguir o mesmo caminho. Pode-se mandar oferecer dinheiro para o pentelho (no meu caso, acho isso vulgar). Enfim: existe um longo cardápio para impedir a disseminação de críticas petulantes geralmente perpetradas por chatos crônicos e indissolúveis. 

De todas as formas de ação as melhores e mais eficazes são: conversar com o jornalista, profissional e equilibradamente, para  compreender a natureza e a motivação da crítica. Pedir direito de resposta para ampliar o debate público e mostrar outros pontos de vista. Reconhecer que a crítica procede e mudar a atitude. 

O importante é acreditar (mesmo que ingenuamente) que as relações democráticas são ótimos lenitivos para conflitos estéreis ou relevantes. Tudo vale a pena quando a vida não é pequena.
O que não se pode fazer é entrincheirar-se numa redoma de arrogância e fingir que as coisas não estão acontecendo e que todas as pessoas pensam da mesma maneira. 

É bom que todos se esforcem para compreender que liberdade de expressão é valor fundamental para que saiamos do atraso mental em que vivemos. Às vezes somos tomados por sentimentos de injustiça. Ninguém gosta de ficar mal na fita. Essa é a vida...

Quando isso acontecer, repito, respire fundo. Abra-se para o mundo, converse, discuta, polemize, use palavras brandas e inteligentes quando o interlocutor é sincero, e palavras duras e cortantes quando ele é canalha e desonesto. 

Só não faça uma coisa: perseguir seus críticos utilizando instrumentos do Estado e das influências econômicas que esse poder proporciona para ameaçar e amordaçar. 

Isso é inaceitável.