Pages

À procura de um candidato que ainda não existe


Encontro as pessoas e não vejo mais seus rostos. Vejo apenas pontos de interrogação. O olhar suplicante me pergunta: e agora, o que vai acontecer? Quem vamos escolher para nos governar em 2018? Quem serão os eleitos? Respondo placidamente: não sei. 

Acho graça: ninguém sabe. Mas o ser que está à frente, implorando por respostas, não se conforma. Qualquer coisa, uma migalha de opinião. Lula ou Bolsonaro? Reinaldo ou Puccinelli? Zeca do PT ou outro espécime qualquer? Repito: como vou saber, criatura? Ele replica: mas quem entende disso é você! 

Sorrio malignamente. Esqueço de lhe avisar que ninguém entende de nada quando o assunto é política eleitoral. Só existem profetas de casos consumados. 

Não adianta falar nada. As pessoas insistem em procurar respostas oraculares para confortar o espírito. Principalmente quando o cenário não permite que as próximas horas sejam previsíveis. 

Talvez a pergunta ideal seja a seguinte: dos possíveis candidatos quem conseguirá sobreviver à polícia e ao judiciário até o próximo ano? Dou a mesma resposta: não sei. 

Claro, tenho meus palpites. Não os levo à sério porque vivemos no tempo da galhofa. Mas vamos lá:

Lula: é o pré-candidato que melhor pontua nas pesquisas até o momento. Não se sabe, porém, se chegará ao próximo ano sem conhecer a carceragem de Curitiba. Muitos também estão pensando como ele conseguirá dinheiro suficiente para se eleger, já que se acostumou com campanhas caras, todas financiadas por grandes empreiteiras, bancos e JBFs da vida. Talvez peça ajuda a Evo Morales e faça um acordo com o narcotráfico para melhorar o caixa. Mesmo que consiga chegar lá, há quem duvide que possa governar com a sociedade dividida e com o Judiciário em seu encalço. Há uma aposta no mercado: Lula – caso seja candidato e se eleja - não conseguirá terminar o mandato, então terá que ter um vice que lhe garanta uma continuidade consensual. Não será fácil. 

Bolsonaro: é o nome que, por enquanto, antagoniza Lula, polarizando corações e mentes. Tem fama de maluco. No fundo, trata-se de uma mistura bizarra de Jânio e Collor. Aposta-se que ele entrará em derretimento completo durante a campanha. Mesmo que isso não aconteça, ele não terá base congressual e, passados alguns meses de governo, sofrendo de delírios totalitários, poderá tentar um golpe a manu militari, sofrendo pedidos de impeachment, tumultuando a vida política, tentando salvar a economia com medidas voluntaristas. É provável que não conclua o mandato. Teremos que olhar para seu vice. Conhecendo Bolsononaro, ele poderá escolher alguém pior do que ele. Morreremos na praia. 

Puccinelli: ele pontua em primeiro lugar em várias pesquisas em Mato Grosso do Sul. Embora tenha uma rejeição razoável, mantém-se nos últimos tempos em total submersão, acautelando-se para não ser surpreendido pela PF. Mesmo assim, para ser candidato, e vencer, terá que ter uma carta de alforria do Judiciário para chacoalhar em comícios alegando dúvidas sobre sua reputação. André depende de uma campanha em que o marketing propague dúvidas e não certezas. Se o seu concorrente for Azambuja, vence numa boa. Se aparecer um “fato novo” que encante as massas, recolhe-se para “cuidar dos netos”. 

Azambuja: é o candidato de suas próprias incertezas. Limito-me a dizer que se ele sobreviver ao Judiciário esse ano, colocará sua candidatura num patamar disputável por força da osmose da própria máquina. Tentará ser reeleito num quadro de dificuldades, sem ter, por enquanto, um discurso que, de resto, lhe favoreceu na disputa contra Delcídio. Mais não digo. Espero outros acontecimentos. 

Zeca do PT: pode ser o azarão dentro de circunstâncias improváveis. Sua rejeição eleitoral é imensa. Se for esperto, tentará ficar onde está: na Câmara Federal, mas mesmo assim não será um passeio. A concorrência à esquerda tenderá crescer e o seu eleitorado diminuir. Zeca viverá um drama hamletiano.