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Heitor Freire: Achar e Desachar


No comportamento humano está disseminado, de forma muito avassaladora, um sistema de comunicação baseado em premissas equivocadas. Todo mundo acha. O presidente, os ministros, os deputados, os senadores, todos acham e ninguém sabe. Essa é a diferença vital entre os dois procedimentos: de quem acha e de quem sabe. Quem sabe, sabe. E como tal tem seu raciocínio e seu discurso baseado em fatos reais. Não acha.

O homem sempre achou e é muito comum querer mostrar erudição deitando falação sobre tudo, a torto e a direito. Achismo é uma gíria atribuída à “teoria” que é criada por alguém sobre algo com base unicamente nas suas opiniões e intenções, sem nenhuma  argumentação concreta ou justificativa.
Um dos critérios para o reconhecimento de um fato social é determinar sua resistência à mudança de perspectiva: os fatos sociais não podem ser alterados pela simples declaração da vontade. Isso não implica na impossibilidade de alteração do fato social, mas é necessário um grande esforço para fazê-lo.

Hoje, o avanço tecnológico e a difusão dos fatos de forma instantânea estimularam uma grande parcela da população a emitir suas opiniões de forma irresponsável, unicamente para sentirem-se parte de um universo pensante. A mudança social decorrente do crescimento da população e do aumento da tecnologia, especialmente na área da comunicação e do transporte, são os principais fatores que causaram essa mudança. 

O problema do achismo é que mesmo sem fundamentação teórica ele pode servir como base para uma tomada de decisão em que as chances de se cometer um erro aumentam exponencialmente à medida que a linha de argumentação avança sobre a contextualização.

O achismo tem como fundamento um conjunto de premissas interpretadas de forma parcial e superficial, seguindo uma sequência lógica imaginária que pode ser precedida pela perseguição a uma ideia fixa a respeito de um assunto.

Porém, a falta de uma evidência concreta torna a “visão antropológica” um espelho distorcido dos temores que afetam não só o indivíduo que observa de forma entorpecida, mas todos aqueles que são atingidos por seus achismos.

Para que um indivíduo evite cair na armadilha da suposição superficial é preciso que adquira conhecimento de causa para que as sucessivas informações que dele possam ser abstraídas produzam efeitos verdadeiramente verificáveis.

Só assim é possível, por exemplo, construir um pensamento científico em que a visão antropológica permita ao indivíduo aproximar uma evidência de sua conclusão lógica.
Construindo um espaço em que as ideias possam emergir de forma pura dentro de um contexto, é possível diminuir a propensão ao erro na linha de argumentação e relativizar o achismo como uma suposição rasa sem sustentação.

A linguagem recorrente deste momento tão apressado é o achismo. Todo mundo acha. A emissão de opinião baseada no achismo é destituída de fundamento. Quem acha não sabe. E só quem sabe deveria opinar. Quem acha acaba se tornando  “se achante”, como diria nosso laureado e saudoso poeta Manoel de Barros.

Vamos trabalhar para que essa onda seja desconstruída de maneira eficaz.

Vamos desachar?

Membro do Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul, Corretor de imóveis e advogado.