Zeca, André e Azambuja: O conjunto da obra
A delação premiada dos irmãos Batistas da JBS mudou o desenho do cenário político brasileiro. Somadas às revelações anteriores (Odebrechet, OAS, João Santana etc, etc, etc) e as que estão por vir, imagino que poucos personagens de nossa política sobreviverão até as próximas eleições.
No plano nacional, já tem gente demais analisando o quadro. No plano estadual, tem gente de menos. O cipoal de interesses é imenso e é natural que os chamados “analistas” de nossa paróquia estejam olhando primeiros seus interesses pessoais para, depois (e só depois), se posicionarem. Isso é normal.
Vivemos numa província. As relações jornalísticas por aqui se dão mais no plano pessoal do que institucional. Portanto, jornalistas e quejandos ficam cheios de dedos para tratar do assunto.
Vejo que Wesley Batista jogou uma bomba no colo de Zeca do PT, de André Puccinelli e de Reinaldo Azambuja. Olhando o vídeo gravado pelo MPF, no qual ele conta as suas “histórias de Mato Grosso do Sul”, realmente o depoimento é crível, visto que o assunto circula há anos nos bastidores, ora como informação quente ora como delírio de boquirrotos.
Pegando o fio condutor de todos os acontecimentos, realmente o operador Ivanildo Miranda é a chave de tudo, principalmente para quem acompanha os rumores do nosso submundo.
Eu ouvi inúmeras vezes relatos pessoais do ex-senador Antonio Russo, proprietário do Grupo Independência, que corroboram todas as informações de Weslei, mesmo porque que a quebra de sua empresa teve forte influência de manobras heterodoxas do JBS com o governo Lula.
Ivanildo freqüentava o escritório de Russo e há mais de 10 anos esses esquemas funcionavam quase que abertamente. Só faltava mesmo quem se dispusesse a falar.
Claro que os irmãos Batistas são figuras inescrupulosas num negócio (pecuária e frigoríficos) altamente inescrupuloso. Como dizem, lugar onde se ganha dinheiro com sangue, quando se mistura à política, vira uma coisa meio selvagem.
Mesmo assim, acho que o impacto da delação terá efeito diferente sobre as imagens de Zeca, André e Reinaldo. Não vou entrar em detalhes agora porque o clima emocional da província não permite. Lá na frente farei meus comentários...
Do ponto de vista legal, Zeca se safa fácil, André será arrastado por longo período nesse processo (que lhe poderá ser benéfico politicamente, pois o reino da dúvida é a salvaguarda de toda defesa) e Azambuja terá que administrar sua carreira sob o impacto imediato de pedidos de impeachment, afastamento do cargo, demissão de colaboradores muito próximos etc.
Imaginem que a disputa à governadoria se concentre em torno desses três nomes no ano que vem. É apenas uma hipótese, visto que estamos num momento de extrema volatilidade política. Mas apenas imaginemos, pois não resta outra coisa a fazer.
Não é preciso ser um gênio para avaliar que Puccinelli sairá com extrema vantagem nesse jogo. As razões são simples: caso ele não encare uma medida drástica como prisão e seus advogados consigam habilmente contornar as decisões judiciais, o ex-governador terá tempo e espaço para fortalecer seu bunker sem o peso de ter que discutir governabilidade e sim o futuro.
Zeca poderá vir em seguida: dirá que não há provas concretas contra ele, que leva uma vida modesta, recebeu doação legal das empresas, mesmo padecendo do desgaste em trazer o carimbo do PT na testa e no nome.
Diferentemente, Reinaldo está no olho do furacão. Usará a máquina para se defender, manietando a imprensa com verbas publicitárias. Mas terá que mostrar serviço e entregar o que prometeu na última campanha. Conseguirá? Com a equipe de comedores de feno que vive em seu entorno será quase impossível.