Para quem lê o subtexto das notícias, causou espécie a posição adotada pela Rede Globo, em seus noticiários, no canal aberto e na Globo News, diante da delação de Wesley Batista, a qual, aliás, foi noticiada em primeira mão pelo jornal O Globo, por seu colunista Lauro Jardim, desencadeando a presente hecatombe política.
Em seu editorial “A Renúncia do Presidente” há pistas do que esteja por detrás da mudança de postura em relação ao atual Governo, rompendo com a lua-de-mel vivida até a véspera.
Além de, indiretamente, estimular a ida da população às ruas, seus comentaristas têm sido contundentes ao detonar o presidente Temer, construindo um texto explícito para dizer que ele já não dispõe de condições para manter-se no cargo. Sardenberg, comentarista de economia, em tom incomum, condenava o que chamou de “capitalismo sórdido”, ao referir-se às empresas que usam da corrupção para realizarem seus negócios com o Poder Público.
Na sequência, especulou sobre os cenários possíveis e os avaliou. Um, seria a saída do presidente, com a manutenção da equipe econômica, leia-se Henrique Meireles, segundo ele, a melhor solução entre todas. E por que essa seria a melhor solução? Seria removido um presidente, a essa altura frágil, incapaz de assegurar as medidas reclamadas pelo “deus mercado” e mantido o staff que daria continuidade às reformas, entendidas como imprescindíveis, apenas a trabalhista e a previdenciária.
O outro, seria a saída desse presidente enfraquecido com a troca da equipe econômica. Nesse caso, ele ponderou que traria insegurança aos investidores, pois, com um clima de mudanças, sem a certeza das reformas, haveria o risco da fuga de capitais. Por fim, o pior dos cenários, seria a permanência de Temer, porque, sem base parlamentar suficiente, as reformas, sobretudo a da previdência, acabariam natimortas.
A Globo aderiu ao “Fora Temer”. A análise do comentarista, evidentemente, reflete sua linha editorial, está a serviço de seus interesses, inequivocamente identificados com os do “deus mercado” e, em última instância, propõe um simulacro de mudança para manter tudo exatamente igual, aliás, prática muito frequente ao longo da História.
Interessante também a conclusão do citado editorial, quando afirma “O caminho pela frente não será fácil. Se há um consolo, é que a Constituição Cidadã de 1988 tem o roteiro para percorrê-lo. O Brasil deve se manter integralmente fiel a ela”. Entenda-se, nada de eleições diretas, já que o preconizado é a eleição indireta, pelo Congresso Nacional, com os parlamentares que lá estão. Quem será o ungido da vez?
Curioso o empenho do grupo na defesa “do projeto de reformas de que o país necessita desesperadamente”, em detrimento de direitos dos trabalhadores e servidores públicos, seja com a reforma trabalhista, seja com a previdenciária e, absolutamente, nenhum movimento para pautar a Reforma Política, essa sim, pedra angular para sairmos desse pântano de fisiologismo em que se converteu o “governo parlamentar” de Temer.
É tempo de nós, cidadãos, exigirmos a convocação de uma Constituinte exclusiva, com cláusula de quarentena para impedir seus integrantes de concorrerem a qualquer cargo eletivo durante período razoável, a fim de se construir um novo arcabouço legal para revitalizar a representação popular, para suprimir a ingerência do poder econômico e do poder religioso nos processos eleitorais, para sanear a Política, defendendo a Democracia e assim devolver a Esperança. Reforma Política Já!
*Sociólogo e professor