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Culpados e Inocentes



Acredito na ideia de presunção da inocência. Os fatos são difusos demais para que se condene alguém sem julgamento legal, sem que o ato criminoso esteja corroborado por provas materiais e imateriais. Aliás, esse conceito ( de que todos são inocentes até que se prove o contrário) separa a barbárie da civilização. 

Mesmo que alguém seja preso em flagrante cometendo um crime horripilante, ele precisa ser julgado e condenado à luz das leis vigentes, até para que a sociedade tenha garantias de que, em outras circunstâncias, a justiça seja cumprida sob o critério do igualitarismo, avessa ao arbítrio e à tirania. 

Sabemos que na vida real as coisas não funcionam rigorosamente como escrito nos códigos. Existe a margem cinzenta da lei, existe um campo especulativo que nos assegura certa noção de culpa e inocência em casos dos mais complexos ao mais triviais. 

Em casos de repercussão pública, julgamos de pronto os envolvidos em denúncias, municiados pelo instrumental cultural que possuímos. Se "todos os políticos são corruptos" por que vou perder tempo elaborando teorias que podem inocentá-lo?. Claro, é mais fácil e menos dispendioso mentalmente que façamos nosso julgamento sumário no tribunal interno de nossa consciência.

Nos casos da Lava Jato e tantas outras operações da Polícia Federal, com suas prisões espetaculares, declarações bombásticas e "provas" contundentes ficamos reféns das imagens e do fluxo monocromático de informações, remoendo nossas mágoas vingativas, querendo que "esses caras que ficaram ricos facilmente" sejam encaminhados às masmorras mais próximas. 

Concordo com os advogados de defesa de que é preciso obedecer os ritos processuais para avaliar os níveis de culpabilidade pelos crimes "supostamente" cometidos.

Ao mesmo tempo reparo que, coligindo as informações oficiais divulgadas, os vídeos dos depoimentos, as caras nervosas e irritadas dos acusados, sou instado a concordar que existem coisas que ultrapassam a razoabilidade dos remédios jurídicos e patenteiam com clareza absurda o crime e os criminosos, mesmo porque muitas vezes a verdade (culpa ou inocência) encontra-se na movimentação fugidia dos corpos, no sutil desvio do olhar, nos atos falhos dos inquiridos quando precisam responder a alguma pergunta incômoda dos jornalistas. 

Não gosto de prejulgar. Mas somando tudo o que estou vendo temo ser considerado idiota (ou ingênuo, apesar de não saber exatamente qual a diferença entre as duas coisas), caso não tenha um sentimento e fortes impressões em relação a toda essa bandalha. 

Muitas coisas que estão vindo a lume confirmam coisas que vi e sei ao longo da vida profissional. Outras que apenas reforçam meu julgamento pessoal em torno do caráter e os vícios de personagens conhecidos. Outras ainda me surpreendem pela audácia dos jogadores em questão. 

No fim, para não ser cruel e obtuso, digo a velha frase Nelson Rodrigues por puro exibicionismo estético: Em Brasília, não há culpados ou inocentes; todos são vítimas.