Pode ser impressão ou avaliação apressada, corro o risco de ser injusto com algumas obras, mas no geral tudo o que se faz no meu país, em termos de serviço público, é precário, improvisado e emergencial.
Nada é definitivo, não existem ações ou obras com intenção de fazê-las durar. Ou é remendo provisório ou uma gambiarra pra tapar alguma falha de percurso, essa é a regra. É banal e faz parte do cotidiano a queda de viadutos, o derretimento de asfalto na cidade e estradas, é real o mal atendimento na saúde e outros setores do serviço público. Até a nossa Constituição tem remendos e são praticadas recauchutagens na sua interpretação.
Andar por qualquer cidade do Brasil basta pra constatar nossa cultura e apego a remendos. Nosso modo de ser se revela não apenas na precariedade do asfalto, na despreocupação com acabamento e o pouco respeito aos detalhes, somos um pais grande demais para exercitar um comportamentos uniformes e obedecer uma mentalidade única.
A regra é cada um por si: se o gestor público anterior iniciou um trabalho razoavelmente eficaz, o que segue irá numa direção decididamente oposta. São raras nossas cidades que servem de modelo.
Evitar práticas definitivas é coisa de brasileiro bobo. A cada nova eleição, o eleito exige marca própria para sua gestão, novos secretários e novas ideias. Para concluir isso são desperdiçados recursos para implantação e divulgação das marcas e dos novos remendos. Só ai já irá escoado pro ralo uma porrada de dinheiro que seria mais útil se aplicado em obras essenciais
Aproveitar o que era bom, nem pensar. Isso até viria bem se as novas ideias fossem efetivas. Na maioria das vezes repete-se a fórmula dos remendos –sejam eles no asfalto como nos rombos deixados pelo gestor anterior.
Se alguma coerência existe na representação pública do país, ela se materializa na fidelidade aos vícios – que só acrescenta despesas e não significa avanços reais.
O sistema nacional de mijar na própria gestão pra marcar território, caso fosse somado seu custo, seria suficiente pra amparar obras e ações sociais além do que podemos imaginar.
A solução de investir na própria imagem com dinheiro público é uma regra entre os políticos, um caixa dois institucionalizado, que facilita campanhas eleitorais como se fosse serviço de utilidade pública. Não confiam, eles, os políticos, que a melhor campanha é o trabalho bem feito.
É uma merda essa cultura pela qual apenas a boa gestão não favorece o reconhecimento público. O alarde é questão de ordem e o custo decorrente está previsto na elaboração do orçamento, uma atitude viciosa já incorporada ao sistema e incentivada pelo entorno que dela se beneficia.