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Quarta-feira de cinzas: Jesus não tem dentes no País dos banguelas


Não há virtudes na miséria. Não sei se foi Churchill ou Balzac quem deu autoria a essa frase. Como escrevo de enfiada não vou pesquisa no Google porque, como se diz, o tempo urge (também não me lembro o autor desse jargão) e é preciso jorrar algumas palavras nessa quarta-feira de cinzas, que é, de fato, a data inaugural do começo do ano no Brasil. 

A partir de agora a vida será de sangue, suor e lágrimas (essa é de Churchill), o que indica o fato de que o País vai pegar fogo nos próximos meses, trazendo pra fora sua cloaca e seus ressentimentos mais baixos. 

Com mais de 12 milhões de desempregados nas ruas, uma economia claudicante, uma política doidivanas, com os poderes da República vivendo cada vez mais uma realidade paralela, certamente não haverá respostas para tantas dúvidas que os brasileiros levantam para si e para outros nesse momento formidável em que a única vontade que dá é a de mandar parar o mundo porque queremos descer (também não sei quem inventou essa piada). 

Desconfio que a partir da semana que vem a Operação Lava Jato vai mandar prender gente nova, delações premiadas assombrarão o congresso e o executivo, o escândalo em torno da família Lula voltará à baila, e, por aqui, nesse nosso mundinho de Mato Grosso do Sul, temas incômodos ( prefiro não entrar em detalhes) fustigarão os corações e mentes dos grandes democratas que formam a base intelectual (ironia, ironia...) da República de Maracaju. 

Sim, meus amigos, março e abril serão meses cruéis.A sociedade está com raiva e, a qualquer sinal de coisa mal explicada, as teorias da pós-verdade entram em funcionamento para mostrar o quanto estamos podres nesses verão de 2017. 

Será preciso (parafraseando Kiko Cangussu) ter fígado de tungstênio para suportar a onda de maluquices que vem por aí. 

Não adianta tentar esclarecer as coisas conforme a lógica empírica. A maioria se julga esperta demais para explicações simples (tipo uma rosa é uma rosa é uma rosa, como lembrou Gertrude Stein) e sempre inventará uma conspiração mirabolante para chamar de sua. 

De meu ladinho - nos altos do Bairro São Francisco- , vou torcer para que possamos ter um final de ano melhor do que nos dois anos anteriores. 

Gostaria de entrar em 2018 com a espinha ereta e o coração tranqüilo (essa é do Walter Franco) para ajudar a fazer uma mudança na estrutura de poder de nosso Estado e do País. 

Não posso confiar em gente que, em quatro frases, consegue cometer seis erros de concordância verbal e nominal. Simples assim. Quem fala mal, pensa mal, não me representa, ainda mais se for rico a vida inteira e teve preguiça de estudar.

Volto ao começo. Se a crise se tornar mais profunda, os moralistas de fachada ganharão espaço. A mentira se transformará no fator emocional dos movimentos populares. A cena final daquele filme “Mad Max: a estrada da fúria” poderá ser uma metáfora perfeita de nossa vida. Ou seja: a virtude e a miséria serão apenas uma revelação de que, realmente, Jesus não tem dentes no País dos banguelas ( essa não vou dizer de quem é).