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Socialismo: uma questão de coerência e de escrúpulos


Quem tiver o cuidado de buscar em qualquer dicionário existente no mundo encontrará a definição do vocábulo "socialista" mais ou menos nos seguintes termos: "doutrina política e econômica que prega a coletivização dos meios de produção e de distribuição, mediante a supressão da propriedade privada e das classes sociais". 

Pegue agora esse conceito ( certamente simplificador e diluído no tempo) e tente aplicá-lo ao Partido Socialista Brasileiro (PSB). Não há congruência, obviamente. Lógico, não se pode cobrar coerência programática de qualquer partido no Brasil. 

Quem conhece a realidade política e os programas partidários sabe que há tremenda distância entre o discurso e a prática de cada um. 

Sempre acho que no Brasil não existe partidos stricto sensu, principalmente quando se pega a famosa obra clássica de Maurice Duverger, na qual ele esquadrinha a história e a formação dos partidos desde a idade média até mais ou menos a década de 50 do século XX na Europa. 

No Brasil, existem siglas partidárias, grupos políticos organizados por interesses momentâneos, sem que se pese muito questões de ordem ideológica vinculadas às bandeiras de tendências política-sociais em voga. 

É muito natural por aqui partidos ditos de extrema-esquerda receberem dinheiro de grandes empresas ou de grandes empresários. 

Ou, ainda, partidos de esquerda, terem em seus quadros "capitalistas progressistas". 

Nossa sopinha de letras partidárias, no fundo, se estruturam pelas conveniências momentâneas em tornos de lutas eleitorais. A cada eleição assistimos a pessoas transitarem por todos os espectros ideológicos visando mais o candidato, individualmente,  do que ao partido a que ele pertence. 

Como se diz, não votamos em partidos e sim em nomes.

Agora, vamos ao eixo desse artigo: ontem, inadvertidamente, publiquei na minha página do Facebook uma frase que me rendeu diatribes de amigos reais e virtuais: "quando um partido socialista é liderado pela burguesia rural é melhor mudar de nome". 

Não se tratava de depreciar a também chamada "burguesia agrária", mas foi uma ironia ao fato de o Partido Socialista Brasileiro (PSB) ter escolhido a deputada Tereza Cristina para a liderança na Câmara dos Deputados.

O partido tem 36 deputados federais. Analisando a biografia de cada um, não se pode chamá-los todos de "socialistas". 

Mas o fato de terem escolhido - com apoio do Palácio do Planalto - a deputada Tereza para liderar a bancada é um sinal que eles jogaram às favas qualquer escrúpulo de ordem ideológica. Certamente, não serão os primeiros nem os únicos. 

Talvez o caso da deputada, quando se analisa o "Manisfesto" do PSB em sua página na internet, torne-se algo gritantemente fora de propósito, sobretudo para quem conhece de perto a parlamentar aqui em Mato Grosso do Sul. 

Tereza Cristina é a quintessência do anti-socialismo, habitando o centro da chamada política de curral, proprietária de terras (o que não é pecado, apesar de a esquerda acreditar que só com o fim da propriedade privada é que vamos alcançar o paraíso na terra), além de ser instrumento dócil de negociatas entre partidos no Estado, ora com o PSDB ora com PMDB, lídima representante de nosso pior patrimonialismo, o que a transforma no lado inverso do espelho que evanesce a si  na estranha estrutura de seu partido.

O PSB talvez não pudesse ter melhor liderança. Pelo menos optou por rasgar a fantasia em vez de ficar fazendo pose de "progressista", quando nada mais é do que uma das faces da nossa direita mais atrasada.

Que continue assim.