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Recordar é viver: As possibilidades de Azambuja


Em fevereiro de 2015 escrevi vários artigos criticando a maneira como o Governo Azambuja estava sendo conduzido. Achava que como filiado e militante do PSDB era minha obrigação. Na época eu era assessor do senador Ruben Figueiró e os meus reparos foram objeto de muita contrariedade de Reinaldo e Sérgio de Paula.

Para amenizar a situação Figueiró pediu-me que me retratasse e escrevesse um texto que pacificasse a situação. Foi o que fiz, à minha maneira. A situação piorou. Reinaldo e Sérgio ficaram mais revoltados ainda.

Hoje relendo o artigo, acho que em algumas coisas fui profético. A culpa não é minha. São os fatos que teimaram em me dar razão.

"Quais as chances de o Governo de Reinaldo Azambuja dar certo? Todas. Essa é a minha opinião. Ela é suspeita, lógico. Fui eleitor e apoiador de sua candidatura. Torço para que Reinaldo compreenda o que sua eleição representa neste momento histórico: ele será a encarnação de um processo de ruptura política do paradigma binário PMDB/ PT que prevalece há décadas em nosso Estado. 

Vejo em Reinaldo a oportunidade de se colocar em prática um modelo de gestão mais adequado às perspectivas de sociedades abertas como a que vivemos. Diante das forças em jogo no processo político sua margem de acerto terá que ser muito maior do que a de erro, pois caso fracasse (principalmente no primeiro ano) entraremos no círculo vicioso de retrocessos nos usos e costumes administrativos.

A tarefa de Azambuja não será fácil. Ele terá que caminhar no fio da navalha. Precisará se articular com um governo federal hostil que necessitará tomar “medidas impopulares” compartilhadas com os Estados. Junto com isso, Azambuja terá que atender as aspirações de um eleitorado que tem demonstrado ao longo dos anos preferência pelo PSDB. Não poderá haver grandes decepções.

Saber se movimentar entre estes dois polos será a prova de sua sabedoria. Não poderá haver dúvidas. Tomara que a humildade e o espírito democrático o iluminem. 
O sucesso de seu governo dependerá também de como ele se movimentará politicamente em meio às crises que se abaterão sobre o País no ano que vem. 

Sinto que Azambuja está tropeçando na fase de transição. Neste aspecto, ele terá que compreender que críticas públicas e abertas que vem sendo feitas são normais do novo jeito de se fazer militância política no PSDB. Não poderá haver ressentimentos.

Se prevalecer a prática de tudo ser tratado na esfera interna do partido, na base de resmungos pontuais, a militância (incipiente) corre o risco de ficar petrificada, confundindo partido e governo, como vem fazendo o PT. Não se areja a vida partidária com punhos de renda.

Tempo novo, nova política, ouvir pessoas, reformas estruturantes, isso não poderá ser apenas slogans eleitorais. Um partido no poder deve ser adulto o suficiente para fazer autocrítica e rechaçar a algaravia dos puxa-sacos de plantão. 

Antigamente, um governante eleito ganhava o bônus da lua de mel. Agora, nos tempos atuais, fechada as urnas, no dia seguinte ele começa a ser escrutinado pelas redes sociais, observado criticamente pela população, vitimado pelo zum-zum-zum da “Dona Candinha”. 

No momento em que se discutem nomes para o secretariado os níveis de tensão costumam se elevar. Mas é isso que define a estrutura de poder e a sua correlação de forças dentro da sociedade. Isso é natural. O governante sensível tem que saber que cada indicado pelas suas mãos perde sua “individualidade” passando a ser um símbolo que representa alguma coisa no imaginário social.

De nada adianta escolher um sujeito “experiente” se ele tem um conceito negativo. No mundo imagético em que vivemos quem deseja fazer um governo ético, responsável e tecnicamente correto deve ter ao lado parceiros cuja imagem tenha exatamente o conteúdo desse paradigma. 

Não dá para escorregar neste quesito. Por isso é importante que as figuras históricas dos partidos tenham voz (o chamado “conselho de anciões”), pois é normal que com o tempo os governantes percam a capacidade ouvir e enxergar o mundo como ele é.

As bases partidárias neste momento estão pressionando seus representantes por espaço e cargos. O jogo fisiológico é uma das esferas da democracia, pontuava Aristóteles. Não se governa com anjos – nem com demônios.

O assunto é relevante porque a máquina pública de Mato Grosso do Sul abriga expressiva força de trabalho e consumo. Ela termina sendo a condutora do processo de construção de quem somos. A realocação de cargos e interesses resultará no final desse processo na face exposta do governo. 

Ainda não se sabe qual será a feição da gestão de Reinaldo. Acho que a imagem “ruralista” que estão tentando imprimir ao seu governo é equivocada.

Há também um pessimismo disseminado com os nomes especulados até o momento para ocupar o secretariado. Sabe-se que nunca há unanimidade nestas indicações. 

Repito: é importante que o governador saiba que nas sociedades modernas símbolos e gestos midiáticos marcam mais do que ações concretas. A maior ou menor capacidade de manejar simbologias é o que separa o bom e o mau governo. Infelizmente, governar é mais complicado do que fazer campanhas eleitorais."