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A invenção do futuro


Os Granadeiros da imprensa estão aos bivaques alvoroçando as tropas sobre os acontecimentos políticos de 2018. 

Uns vaticinam que Lula será o próximo presidente; outros cacarejam que Bolsonaro ronda perigosamente o País, na esteira da eleição de Donald Trump, nos EUA. E também existem aqueles que apostam que a coalizão PMDB/PSDB fundará uma hegemonia de centro-direita em torno de Serra, Aécio ou Alckmin. 

No plano estadual, especulam à larga sobre as candidaturas de Azambuja, Puccinelli ou uma terceira via (ainda indefinida), que terminará por ocupar o cenário dos corações e mentes dos mais amplos espectros de um eleitorado que deseja passar a régua em todos. Tudo muito esquisito.

Só que existe um grande problema: o futuro está muito distante. A longa ponte a ser atravessada até lá talvez balance um pouco atirando gente aparentemente consolidada nas profundezas do abismo eleitoral.

A pergunta correta não deve girar sobre “quem serão os candidatos”? E sim sobre quem sobreviverá politicamente até 2018?

Não desejo fulanizar nem especular, mas dependendo da conjuntura veremos atores políticos inimagináveis assumirem o protagonismo relevante, galvanizando uma massa que vem nos últimos tempos carregando a insígnia da raiva, negando inclusive o valor da democracia representativa como fórmula de resolução de problemas sociais. 

O PT – feliz ou infelizmente – faz uma leitura completamente errada dessa nova realidade, à medida que tem estimulado a transformação de adversários ocasionais das amplas camadas médias da sociedade em opositores fanáticos. 

Em vez de o partido apresentar uma nova versão de propostas moderadas para atrair o centro político, ele faz o oposto: retroage ao ideário da esquerda dos anos 50 sonhando que as pessoas comuns possam acreditar em fantasias do “engajamento alternativo” para transformar quimeras em um mundo melhor. Talvez nem consigam morrer na praia. 

Aqui no Estado há quem acredite que a classe política fará uma grande concertação em torno de um nome central para manter o status quo. Tem gente sonhando com a fórmula de que todos juntos (o centro e a direita, principalmente), numa só chapa,  possa levar à salvação pelo consenso. 

O raciocínio é o seguinte: Azambuja, Puccinelli, Nelsinho Trad, Mandetta, Londres Machado, Pedro Chaves, Simone Tebet, Moka etc, etc, etc, fazem um grande acordo, repartem cargos e mandatos e seguem em frente, ganhando as eleições, criando uma expectativa de poder para a próxima década. 

Seria fácil pensar assim. Esse é o sonho de todo mal intencionado de plantão. O problema é que ninguém seria capaz criar uma engenharia tão complexa como essa pelas costas da sociedade. 

O risco seria jogar o Poder nas mãos de um outsider (a sombra de Bernal ainda anda assombrando por aí). Nada mais atrai o eleitor do que um sujeito que represente a negação de “tudo isso que aí está”.

Outra questão: para a classe política está muito fácil tirar o poder das mãos do PSDB, pois Azambuja está claudicando, costeando o alambrado, como se diz. Em qualquer roda esclarecida, o governador já é considerado desde já uma carta fora do baralho político. 

Azambuja transformou-se no típico governante que, de tanta esperteza, será engolido pelo esperto. A derrota de Rose Modesto nas eleições passadas foram o primeiro sinal. E parece que Reinaldo até o momento não está conseguindo fazer leitura correta desse processo. 

Esse é o drama de quem governa com grupos fechados: é engolido pelos auto-elogios dos seus êxitos imaginários.

Com isso, os apetites do PMDB aumentam, vislumbrando a chance real de voltar ao poder com Puccinelli em 2018. Esse, na verdade, faz o jogo ambíguo das duplas mensagens, típico de quem pretende engolir os adversários num momento de espanto. 

Mesmo assim, não dá para inventar um 2018 de dentro de gabinetes como se fazia no passado. 
Cada vez mais, a política está nas ruas. Quem viver, verá.