A ciência política está tentando decifrar o novo tipo de "populismo" que vem pela frente.
Com a eleição de Trump, a ascensão do Podemos, na Espanha, o Syriza, na Grécia, com as últimas eleições municipais brasileiras em que predominou o perfil "anti-político", ou seja, avaliando esse ambiente que indica a busca pelo modelo novo que tenta manter-se em sintonia com a sociedade emergente, que digere muita informação simultânea, descarta conhecimento e manifesta raiva constante, pergunta-se: qual esfinge que vamos ter que decifrar a partir de agora?
Em meio a tantas incertezas, o que se sabe até o momento é que há um "populismo" de tipo diferente na praça. Não se trata mais da emergência de "líderes carismáticos" que investem sua imagem na sintonia direta com as massas, desprezando as instituições, fragilizando a democracia, torcendo enigmaticamente o sistema representativo, mas de personas que parecem dissolver-se nos interesses difusos dos homens e mulheres comuns, fortalecendo sentimentos que percorrem desde o anti-intelectualismo até o nacionalismo mais extremado.
Digo que o "populismo" que encarna a figura de Lula, por exemplo, está cada vez mais em desuso. Olhamos para ele e vemos um homem em desespero, tentando encontrar um fiapo de si mesmo, buscando um escape tangencial na direção de algo que não o vincule com escândalos de corrupção.
O que ele fala só serve para sua tropa militante. O centro político o rejeita. Sendo assim, suas chances eleitorais em 2018 serão diminutas, mas o PT encontra-se num beco sem saída: tem que manter a ideia de sua candidatura no imaginário social esperando que isso seja fator que tenha peso no processo político que impeça que seu líder máximo seja levado à cadeia.
Ao mesmo tempo, sabemos que se o Lulismo prevalecer, o esquema partidário ficará menor na Câmara, no Senado e nos governos estaduais.
Complicado.
O tipo "populista" que pode se fortalecer percorre extenso arco que vai de Geraldo Alckmin, passa por Marina Silva e chega em Jair Bolsonaro.
Convém dizer que esses três não vão se encaixar no perfil clássico do populismo, mas podem galvanizar largos contingentes eleitorais.
Pela moderação, pelo exotismo e pela raiva, esses três merecem atenção devida.
Difícil enquadrá-los no conceito "populista", embora todos tentarão mexer com sentimentos que estão submersos que desejam que o coletivo prevaleça sobre o individual, que o banal sobreponha o especial e que, enfim, prevaleçam uma leitura "desideologizada" da história e da sociedade.
Até onde a vista alcança, a esquerda clássica perdeu o bonde da história.