Mário Sérgio Lorenzetto: Mais do mesmo
Publicado originalmente no site Campograndenews:
É sempre mais do mesmo. Mais polícia, mais presídio, mais carros, mais armas,mais isto, mais aquilo. Mais balela. Para nós, é sempre menos. Menos segurança, menos humanidade, menos civilização. Esqueçam. Mais presídios que funcionem como esses que estão aí não resolverão nada.
Até hoje não entenderam (ou não querem entender) que é muito dinheiro que está em jogo. Tem as fortunas mirabolantes do tráfico de drogas dentro e fora dos presídios. Ponto de tráfico é disputado à bala. É uma briga de poder, que se eterniza, entre os grupos que disputam essas fortunas. Nessa disputa, as forças de segurança assistem na poltrona, como se fossem meros espectadores.
Construir presídios de segurança máxima tem alguma importância, mas será uma medida inócua se não tomarem outras tantas no curto prazo. Neste instante, seria preciso encontrar uma fórmula inteligente de vigiar e separar cada comandante de cada cadeia. Uma organização que os criminosos montaram há muito tempo e os governantes nada fizeram para que não ocorresse.
Há alguns princípios que não são debatidos. Primeiro: não existe sociedade sem criminalidade. Mas podemos diminuí-la com ideias e organizações que em nenhum momento estão sendo colocadas pelos governos. Segundo: não podemos continuar construindo presídios, jogando fora dinheiro dos contribuintes, gastando muito menos com os alunos do ensino fundamental do que com cada preso. Esse erro não pode se eternizar. Terceiro: os governos nunca interferiram nos presídios. Deixam a administração por conta dos presos, o funcionamento a gerencia do cotidiano.
Tudo pode acontecer em um sistema gerido dessa forma. Os governos abandonaram os presídios à própria sorte. Desde que não ocorra rebelião, fuga e mortes ninguém se importa com o que acontece lá dentro. Há dezenas de anos é assim. Ninguém quis mudar e ninguém pretende mudar.
Na maioria dos presídios não entra crack. Vende-se maconha e cocaína. Em muito presídios os detentos passam fome. Quem lhes dá comida? O PCC e o CV. Quem distribui o "jumbo" (comida, roupas e material de higiene levada pela família) ? As organizações criminosas. Os governantes deixaram de fazer o mínimo que lhes compete. Se prende o sujeito, tem que garantir o mínimo para que ele saia vivo do presídio.