Foi na ponta direita que nasceu o drible. Ali, nesta curta faixa de campo, a bola foi reverenciada pelas pernas tortas de Mané Garrincha. Por certo, havia afinidade entre ambos. Afinal, não se desgrudavam e no íntimo dessa relação encontramos o gesto do drible.
No parágrafo acima, quis trazer um pouco da erudição do jornalista botafoguense Armando Nogueira e a misturei com minha parca inspiração de fim de tarde pra lembramos que há 34 anos o mundo do futebol perdia um de seus maiores gênios: Mané Garrincha.
Do jogador festejado pelas conquistas das Copas de 1958 e 1962 pela seleção brasileira e por comandar o bicampeonato carioca 62-63 com o Botafogo, sabemos muito. Mas o drama do homem que não conseguiu vencer o vício do álcool, pouco é comentado.
Garrincha foi o símbolo de uma época nostálgica do futebol brasileiro. Uma década de glórias que também assistiu Pelé, Nilton Santos, Didi, Vavá e tantos outros.
Das glórias com a seleção e o alvinegro carioca, ao casamento com a cantora Elza Soares, Mané Garrincha era a principal manchete dos jornais e revistas nacionais.
Infelizmente, no mesmo período em que chegava ao apogeu, Garrincha dava passos largos aos prazeres etílicos caminhando por uma estrada cujo destino certo era ver a vida a definhar.
E a mesma imprensa que o celebrou, o manteve esquecido num subúrbio carioca até janeiro de 1983, quando foi encontrado morto. Tinha 45 anos, um dúzia de filhos, três casamentos e um montão de histórias pra contar.
Das mentiras que os homens contam sobre as atitudes de Garrincha, a maioria é folclórica e nunca pertenceu ao comportamento, nem a vida particular do jogador.
Causos, como o episódio em que ele ficou em dúvida sobre comprar um rádio na Suécia, imaginado a possibilidade do aparelho só tocar a programação da Escandinávia no Brasil, não passam de mito.
Conforme o biógrafo do jogador, o jornalista Ruy Castro, Garrincha era um homem esperto, cortez, elegante, que gostava de roupas de grife, ouvia Frank Sinatra, Bossa Nova e foi amigo particular de João Gilberto.
Feliz a criatura que viu Garrincha jogar. Eu não vi. O máximo que consegui assistir foram cenas do acervo do extinto Canal 100. São imagens emblemáticas: suecos, tchecos, chilenos, apavorados com as fintas do ponta direita da seleção.
Em 2017, o mundo celebra Cristiano Ronaldo como melhor do mundo. Eu relembro Garrincha e sua meninice com a bola nos pés. Coisas do coração.
Jornalista/Campo Grande-MS