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Reflexões inúteis de final de ano


Não há como escamotear o fato de que finais de ano o cotidiano parece envolvido por circunstâncias da urgência e emergência. 

Na nossa cabecinha condicionada pela ideia de que o tempo é uma linha reta que sempre segue em frente (diferente, por exemplo, da idade média em que vigorava o conceito do tempo circular), acreditamos piamente que a mudança de calendário tem a função mágica de mudar o rumo de nossa existência. 

Há uma sensação de que 2016 é um ano maldito. Assim, a esperança é de que 2017 tudo se transforme para melhor. Mas digamos que eu tenha uma suspeita de que número impar - e ainda mais o 7 - não significa bom presságio. 

Não seria mais fácil atravessar o próximo ano falando o tempo todo de 2018, o ano da redenção e da transformação? 

Pois é: tem muita gente fazendo isso na virada do ano. 

Jogando suas pedrinhas de búzios e apostando que ano que termina em par e ainda mais com final 8 (deitado ele é o símbolo do infinito, sugerindo relações místicas de todos os tipos) pode significar que o maná virá depois de longa e sofrida travessia do deserto. 

Os grandes especialistas (e também os grandes picaretas) estão prevendo um 2017 complicado, tenso, agitado. Muitos acreditam que será o período ideal para se construir novas bases conceituais que terão influência pelas próximas décadas. 

A crise machuca, mas ao mesmo tempo estimula a criatividade e tira do armário monstros escondidos há muito habitando o nosso subconsciente. É provável que nacionalismos, fascismos, populismos, histeria coletiva tome conta do noticiário por muitos meses. 

A carga de ressentimento social é muito intensa. A falta de dinheiro e de emprego, principalmente numa sociedade de consumo, cria um ambiente de violência escapista que gera contradições imprevisíveis. 

Sinceramente, se pudesse passaria o ano de 2017 lendo os clássicos, dormindo muito e bebendo os melhores vinhos. Mas esse seria o plano B. 

O plano A (incontornável) é continuar no front, enfrentando o mundo real, combatendo os idiotas, esperando parar de chover.