Nos últimos tempos Ferreira Gullar fez parte de minha vida diariamente. Ganhei de presente de minha esposa suas obras completas, uma edição primorosa da Editora José Olímpio, e todos os dias leio alguns de seus poemas ou textos.
Essas leituras tornaram-se quase obrigação religiosa. Alguns poemas leio várias vezes. Outros, apenas perpasso porque não me são interessantes nem pertencem à minha linhagem. Nenhum poeta consegue ter o domínio de todo o universo estético de seus leitores.
Não importa. A leitura de Gullar tem fortalecido minha alma nesses tempos complicados que vivemos.
O meu poema preferido coincide com minhas leituras recentes de Platão e Parmênides. Poucas vezes um poeta fez uma síntese tão perfeita de nosso misterioso mundo interior. Vamos a ele:
Dentro
“O um é um e não é dois”
Parmênides, de Platão
Estamos dentro de um dentro
Que não tem fora
E não tem fora porque
o dentro é tudo o que há
E por ser tudo
É o todo:
tem tudo dentro de si
até mesmo o fora se,
por hipótese,
se admitisse existir