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Delação da Odebrechet: nojento e revoltante


A leitura do anexo da delação do ex-vice-presidente de relações institucionais da Odebrecht, Claudio Melo Filho, entregue à Procuradoria-Geral da República, e publicado com exclusividade pela revista Veja, leva mais ou menos uns 90 minutos. 

A narrativa é bem estruturada. No começo, até parece um romance. É um texto que agarra a gente pelo pescoço. Mas só dever ser recomendado para pessoas com estômago forte: é nojento e revoltante. 

Cláudio Filho conta sua história. Pelos detalhes, será difícil desmenti-lo. Ao longo das 82 páginas, qualquer bom analista concluirá que não há teoria política que sustente de maneira benevolente os anos FHC/Lula/Dilma, com o amplo consórcio partidário montado naquilo que veio a se chamar depois de "Presidencialismo de Coalizão". 

Fico imaginando o que será do País depois que vier à tona as 77 delações que ainda faltam para serem divulgadas. 

Certamente, não sobrará nada da atual classe política que vem atuando desde o processo de redemocratização do Brasil, com seus mitos e mentiras, suas falcatruas e hipocrisias, sua ganância e desprezo pelas pessoas. 

O documento estarrece. Qualquer cidadão ou cidadã que ousar fazer proselitismo político-eleitoral daqui pra frente - defendendo PT, PMDB, PSDB e outros associados, com papos sobre elites, golpes, conspirações, pós verdade, mimimis etc,etc,etc - cairá no mais retumbante ridículo. 

(Aliás, devo avisar que a partir de agora só debato o assunto com aqueles que lerem o documento por inteiro, pois o noticiário, por mais que se esforce, não consegue abranger todas as nuances apresentadas pelo executivo da Odebrecht).

A atividade representativa do parlamento terá que ser revista em toda a sua arquitetura. Os riscos históricos que a sociedade enfrentará a partir de agora são imensos. As chances de aparecer aventureiros na onda dessa montagem malcheirosa que sempre existiu e foi levada a extremos nos últimos 15 anos são imensas. 

A pergunta vale ser gritada a pleno pulmões: que País é este!

Devo avisar que conclui que o PT foi o centro irradiador dessa mentalidade de saque que se estruturou em torno das empreiteiras, mas é perfeitamente claro que todos entraram na farra. Não há santo nesse mafuá. 

Enfim, só para fechar: a delação veio num momento especial, logo após a decisão estapafúrdia do Supremo, que manteve o Senador Renan Calheiros - um dos artífices de todo esse processo -, na função de presidente da Casa. Era impossível não acontecer nada. 

Como jornalista que atua há muitos anos acompanhando a vida política brasileira, tendo passado por Brasília em alguns momentos, e recebido muitos rumores com o valor de informação, comecei a colar personagens de nosso Estado com alguns dos nomes citados e confesso que muita coisa, que sempre habitou minha cabeça como "mistério", agora se ilumina. 

Um aviso: não sobrarão reputações a serem preservadas nesse processo.