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Corrupção


O PT sempre diz que não foi ele quem inventou a corrupção. Lula sempre diz que fez o que porque todo mundo fez. Maluf diz mais ou menos a mesma coisa. Toda a turma da Odebrecht diz que pagamento de propina em governos era a regra do jogo. 

Enfim: todos tem suas razões, a corrupção realmente é uma dama sedutora que enlouquece aqueles que ouvem seu canto mágico singrando os mares tormentosos da vida. 

O ser humano é frágil. A primeira coisa que uma criança aprende na vida é ter noção do que é meu e o que é seu. Voltaire conta que "caso um pequeno selvagem sentir fome e seu pai lhe der de comer um pedaço de outro selvagem, no dia seguinte pedirá o mesmo". 

Locke insistiu na tese de que não temos ideias inatas muito menos princípios inatos. Só uma educação moral em que fique claro que não devemos fazer com os outros aquilo que não gostaria que se fizesse com a gente talvez contivesse alguns ímpetos no sentido de amealhar, desonestamente, aquilo que pertence a todos. 

Tive vários amigos na adolescência (puros e honestíssimos) que se tornaram corruptos na fase adulta. Dois ou três foram presos em escândalos diversos, desviando dinheiro da saúde, educação, obras públicas etc.

Invariavelmente - não sei se isso é coincidência - ele me contaram que tudo começou em campanhas eleitorais 

Eles eram designados (ou se ofereciam) a solicitar dinheiro empresarial para seus candidatos. 

Eram recursos não contabilizados, pouco controlado, tudo feito por debaixo do pano. Era fácil - contam eles - amealhar um troco para si e para a família. 

Daí para gerar vínculos interpessoais, turbinar negócios e criar um tipo de vício pela ilegalidade são passos naturais. 

Um deles me conta que passou pela fase do sentimento de culpa até os primeiros R$ 100 mil. Ele começou no setor de compras de merenda escolar. Um fornecedor lhe deu a dica: compre produtos de quinta que eu lhe emito notas de gêneros primeira categoria. A diferença a gente divide. 

Foi assim que ele começou a ficar rico. 

Depois, anos mais tarde, teve que vender tudo para pagar advogados para lhe tirar da cadeia. 

Em escala maior foi mais ou menos assim que aconteceu com a Petrobras, Eletrobras, etc,etc,etc, envolvendo milhares de pessoas, quase um País. 

 Não se sabe o quanto de dinheiro foi amealhado nesse processo todo durante as últimas décadas. 

Calcula-se que represente alguns PIBs, ou seja, dinheiro que se traduz hoje em desigualdades sociais, miséria, violência urbana, enfim, as iniquidades a que assistimos horrorizados nos perguntando como chegamos a esse ponto. 

Diante de uma mala cheia de dinheiro - não importa a riqueza - o sujeito treme. Muitas vezes, não pelo valor em si, mas pelo poder que isso representa. 

A maioria imagina que está adquirindo, com isso, uma espécie de liberdade, confundindo capacidade de consumo e aquisição de bens, com valores transcendentais que lhe proporcionam prazer e satisfação pessoal. 

Fico imaginando a trajetória pessoal de Marcelo Odebrecht, Palocci, José Dirceu (personagens com formações e personalidades diversas) passando por uma revisão solitária de consciência numa cela de prisão. Será que conseguem? Ou se justificam? Ou mandam às favas os escrúpulos?

Não tenho a mínima ideia se fazem ou não autocrítica, ou se arrependem de algumas coisas que fizeram nas suas relações entre o público e o privado, mas tenho a certeza que quase todos foram seduzidos para sempre pela deusa de canto doce que ainda ecoa uma música irresistível no horizonte: sou foda, sou foda, sou foda!

Para eles, a palavra corrupção não existe. Isso é coisa de udenista recalcado. O que existe é o conceito de poder exercido da maneira mais primitiva e selvagem possível: quem pode mais amealha todos os despojos da guerra permanente em que vivemos. Simples assim.